Sentada no sofá, com uma manta a tapar-lhe as pernas apesar da lareira acessa, e do conforto que dela emanava, Amélia pensava na época que se avizinhava.
Estava novamente em Dezembro, o Natal já batia à porta, mas faltava a motivação, o sentimento que deveria estar a acontecer nessa altura.
Amélia recordava outras épocas, outros natais, outros anos em que a vontade de ouvir e cantar as músicas natalícias e de enfeitar todos os cantinhos da casa existia. Outros anos em que à volta da mesa se reuniam comensais sorridentes, perante as iguarias e os doces que estragavam as dietas de um ano.
Amélia perguntava-se o porquê da mudança de espírito, seria por já não estarem todos os que costumavam estar? Claro que isso já era um motivo de peso, mas, mais não era que os ciclos da vida a passarem por nós, consequência da nossa mortalidade. Ou seria a humanidade, que se estava a tornar fria, dando valor ao que o não tinha, esquecendo emoções e valores maiores, perdidos nas esquinas das distracções imediatas e traiçoeiras?
Sem saber muito bem como contrariar a falta de espírito natalício, Amélia vai pôr ao lume a chaleira para fazer um chá quando ouve a campainha da porta. Curiosa, dirige-se à entrada, e ao abri-la depara-se com as crianças mais lindas do mundo, os seus netos, cada um com uma caixa quase do seu tamanho. Atrás vem a filha e o genro, que com um grande sorriso lhe dizem, podemos vir ajudar a preparar a casa para as festas?
O filho de Amélia estava no Austrália a cumprir um contrato de 2 anos, e a filha supostamente, iria passar o Natal ao Minho a casa dos cunhados, mas acabou por decidir com a concordância do marido, que não poderia deixar a mãe e a tia que se lhe juntaria, sozinhas. Em casa dos cunhados seriam muitos, não sentiriam a sua falta, e os filhos foram da mesma opinião, a avó precisa mais da nossa companhia, disseram eles.
Logo a seguir telefona-lhe a irmã a informar que a filha também passará a consoada com elas. Pensara que estaria de serviço no hospital nessa noite, mas tinham trocado os turnos, e ela estaria livre, podiam contar com ela e com o filho.
Afinal, o espírito natalício existia! E o amor, e a solidariedade, e o carinho, e a palavra família.
E com um ímpeto novo, começou a preparar a sua casa para as festas com a fantástica ajuda daqueles belos ajudantes.