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pessoas e coisas da vida

pessoas e coisas da vida

Março 29, 2022

imsilva

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POEMA DO AMOR

Este é o poema do amor.
.
Do amor tal qual se fala, do amor sem mestre.
Do amor.
Do amor.
Do amor.
.
Este é o poema do amor.
.
Do amor das fachadas dos prédios e dos recipientes do lixo.
Do amor das galinhas, dos gatos e dos cães, e de toda a espécie de bicho.
Do amor.
Do amor.
Do amor.
.
Este é o poema do amor.
.
Do amor das soleiras das portas
e das varandas que estão por cima dos números das portas,
com begónias e avencas plantadas em tachos e em terrinas.
Do amor das janelas sem cortinas
ou de cortinas sujas e tortas.
.
Este é o poema do amor.
.
Do amor das pedras brancas do passeio
com pedrinhas pretas a enfeitá-lo para os olhos se entreterem,
e as ervas teimosas a descerem de permeio
e os homens de cócoras a raparem-nas e elas por outro lado a crescerem.
Do amor das cadeiras cá fora em redor das mesas
com as chávenas de café em cima e o toldo de riscas encarnadas.
Do amor das lojas abertas, com muitos fregueses e freguesas
a entrarem e a saírem e as pessoas todas muito malcriadas.
.
Este é o poema do amor.
.
Do amor do sol e do luar,
do frio e do calor,
das árvores e do mar,
da brisa e da tormenta,
da chuva violenta,
da luz e da cor.
Do amor do ar que circula
e varre os caminhos
e faz remoinhos
e bate no rosto e fere e estimula.
Do amor de ser distraído e pisar as pessoas graves,
do amor sem amar nem lei nem compromisso,
do amor de olhar de lado como fazem as aves,
do amor de ir, e voltar, e tornar a ir, e ninguém ter nada com isso.
Do amor de tudo quanto é livre, de tudo quanto mexe e esbraceja,
que salta, que voa, que vibra e lateja.
Das fitas ao vento,
dos barcos pintados,
das frutas, dos cromos, das caixas de tinta, dos supermercados.
.
Este é o poema do amor.
.
O poema que o poeta propositadamente escreveu
só para falar de amor,
de amor,
de amor,
de amor,
para repetir muitas vezes amor,
amor,
amor,
amor.
Para que um dia, quando o Cérebro Electrónico
contar as palavras que o poeta escreveu,
tantos que,
tantos se,
tantos lhe,
tantos tu,
tantos ela,
tantos eu,
conclua que a palavra que o poeta mais vezes escreveu
foi amor,
amor,
amor.

Este é o poema do amor.

ANTÓNIO GEDEÃO, in OBRA COMPLETA (Relógio D'Água, 2004)

Março 28, 2022

imsilva

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Este ano tem sido horrível! Como se os outros já não tivesssem sido assim apelidados...

Desde uma operação à hernia ao meu marido, à visita do vírus COVID à maior parte da família, a uma guerra estúpida a dois passos daqui, ao internamento da minha mãe que esteve sem visitas 2 semanas (agora já tem), à morte de 2 pessoas que de algum modo estão ligadas à nossa vida, têm sido quase 3 meses de angustia e atribulações como não me lembro noutro ano. 

Nos anos COVID, era só com o que nos tinhamos de preocupar, agora são 58 coisas ao mesmo tempo, que me deixam sem saber para onde dirigir o meu olhar.

Posso parecer pobre e mal agradecida mas tenho-me sentido sem chão muitas vezes. A única coisa que queria muito, muito fazer, uma coisinha pequena, pequenina, tão pequenina que ...desapareceu, era sair 3 dias, perder a chaminé de vista, respirar fundo noutros ares, num cantinho qualquer deste Portugal tão bonito e que está à minha espera. Mas, até isso me foi vedado.

A esperança é a última a morrer, e de esperança tenho vivido nestes últimos dias à espera de uma aberturazinha que permita a fuga. Uma singela fuga que não magoa ninguém, até pelo contrário, não me deixem fugir e verão se não vão aparecer por aí coxos e marrecos depois de lhes ter tratado do pelo.

Como se pode chamar horrível a este ano depois de termos passado pelos outros dois? Mas, eu chamo, chamo sim, e com todas as letras, H-O-R-R-Í-V-E-L!

Quantos meses faltam para o fim de 2022???

Histórias da vida real - II - Henrique

Porque todos somos feitos de histórias

Março 25, 2022

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Henrique viveu bem.

Henrique viveu bons e maus bocados na vida. Nos últimos 20 anos a vida de Henrique não foi fácil. Problemas vários, desde familiares a problemas de saúde, e a problemas laborais e financeiros, Henrique já reformado há dez anos, teve de continuar a trabalhar.

Henrique tentou. 

Henrique é boa pessoa. Gostamos dele. Mas a vida achou que Henrique não merecia paz, não merecia uma velhice descansada e deu-lhe tudo menos isso.

Henrique teve mais um AVC, mais um vírus e mais uma bactéria.

Henrique não quer mais viver.

Henrique não quer estar ligado a uma máquina, sabendo que não vai mais sair dali.

Henrique está consciente e pediu para desligarem essa máquina.  

Essa máquina desligou-se sozinha...

Histórias da vida real - I - Maria

Porque todos somos feitos de histórias.

Março 24, 2022

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Maria reformou-se.

Maria chegou à idade da reforma e reformou-se. Maria queria fazer companhia ao marido aposentado por imposição há uns anos atrás, e com alguns problemas de saúde, apesar de muito activo.

Maria, a rapariga mais velha de 7 irmãos, e que com a morte prematura da mãe teve de ajudar a criar os irmãos mais novos, sendo ela também muito jovem.

Maria tem um coração do tamanho do mundo, sempre pronta a ajudar o próximo.

Maria não tem filhos, uma dor nunca superada. Maria tem sobrinhos por quem se desvela.

Maria tem paixão pelo seu marido, e durante os seus problemas de saúde (renais) foi um forte suporte, sem nunca abdicar da luta e conseguindo uma estabilidade que se traduziu numa vida cuidada e normalizada.

O marido de Maria adoece gravemente 15 dias depois de Maria se reformar.

O marido de Maria está entubado e ligado a uma máquina.

O marido de Maria morreu.

Maria reformou-se, e ficou sozinha.

Pessoas de quem tenho saudades

12° tema de 52 semanasde 2022

Março 23, 2022

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Esta manhã, não sei bem porquê, lembrei-me de uma pessoa que não vejo há alguns anos, e de repente vi-me rodeada de lembranças de outras tantas, que depois de terem cruzado o meu caminho, por um motivo ou por outro deixei de ver. Algumas, infelizmente nunca mais verei, mas outras, porque simplesmente a vida levou-as por outro caminho e não deixaram como contactá-las. É um belo conjunto de pessoas das mais variadas idades e gêneros.

Esta pessoa que me levou a estes pensamentos, não era perfeita (como ninguém é) mas era interessante e inteligente, e foi alguém que eu gostei de conhecer, e durante os anos em que privamos, tivemos conversas interessantes, não que concordassemos em tudo (e ainda bem) mas aportou-me conhecimentos e bons momentos de convivio.

Infelizmente, como já referi, a vida dá voltas que nem a inteligência consegue controlar e neste momento não sei nada dela, nem encontro quem saiba.

E pronto, isto levou-me ao velho sentimento português, à saudade, saudade de tanta gente com que me cruzei, gente que me orgulho de ter conhecido, gente que me fez bem, gente de quem eu gostei ( que continuo a gostar) e que espero tenham gostado também de mim. Obrigado por terem existido.

Beijinhos meus amigos.

                                   ❤

 

 

Este texto foi escrito e publicado há uns anos, e achei que fazia todo o sentido neste desafio. Portanto esta é a minha participação no desafio da Ana de Deus

Março 21, 2022

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E o que é uma árvore senão poesia, 

E o que seria da poesia se não existisse uma árvore a inspira-la,

Quanto de uma e de outra estão na beleza das palavras de um poema escrito numa folha de papel,

ou no prazer de sentir a casca rugosa de um tronco,

ou a textura, cor e cheiro de uma folha de uma árvore qualquer.

A beleza e a poesia de um tronco decadente,

rivalizam com as cores de um tronco em crescimento

no auge da sua vitalidade

Entrelaçadas caminham nos nossos sentidos,

quando as sensações e as palavras se soltam no espaço

onde todos as poderão sentir. 

 

 

 

Março 18, 2022

imsilva

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Vladislav lembrava-se daquele teatro numa ocasião em que, era ele de palmo e meio, fora com o avô ver uma peça "Pedro e o lobo" de Prokofiev. Talvez fosse daí que tivesse nascido a sua paixão pela música.

Hoje era um jovem pianista que começava a ser conhecido na cidade de Kiev, e falado em toda a Ucrânia. Mas, não tinha tido oportunidade de tocar lá, e agora já não o poderia fazer.

Agora só tinha as memórias das belas melodias lá ouvidas ao lado de um avô que também já não estava.

Os seus olhos percorreram as paredes que restavam e sentiu um aperto no peito. Destroem-se casas de cultura como se de um baralho de cartas se tratasse, e não são essas só, são as outras também, as casas que fazem parte da vida do povo, da vida das aldeias, cidades, as casas onde se ensina, as casas onde se tratam os doentes, as casas onde se procura o conforto da fé, as casas de uma sociedade completa.

Haverá alguma desculpa, alguma razão, algum motivo que justifique a destruição dos meios de sobrevivência do ser humano, e do próprio do ser humano que não fez nada para isso merecer?

Vladislav afastou-se acabrunhado, com os olhos postos no chão, envergonhado, não queria ver mais atrocidades cometidas por aqueles que ele pensava serem seus semelhantes.

Março 11, 2022

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Cansada!

Cansada de debitar opiniões que ninguém compra e ainda rejeitam.

Cansada de não ouvir as dos outros, porque não as têm.

Cansada de mandarem-me à cara o que disse ou que deixei de dizer.

Cansada de olhar para todos, de sentir todos, mas ninguém me sentir a mim, ninguém me olhar.

Cansada de ouvir dúvidas, tremeliques e crises existênciais alheias.

Será que um dia me cansarei de mim mesma? 

Há quem faça a velhice rodeada de cães e gatos, a minha será rodeada dos meus livros, das minhas coisas. Se será rodeada de pessoas? Não sei... 

 

Este foi um dia que aconteceu algures no tempo e que saiu muito azedo, não liguem!

O meu estilo???

10º tema de 52 semanas de 2022

Março 09, 2022

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Estilo!

A roupa, os gostos, o feitio?

Sinto-me a simplicidade em figura de gente. Vestimenta confortável, nem sonhem com saltos altos, com o tempo criei o hábito de um creme na cara, mas a maquilhagem não quer nada comigo nem eu quero nada com ela. Posso confessar que gosto imenso de um batonzinho, mas como não costuma durar, falta a paciência. O cabelo sofre do mesmo, branco porque é a cor dele, que fazer? 

Pragmatismo a montes, não enrolem, vão direitos ao assunto se faz favor.

Adoro uma bonita paisagem, e o cheiro a natureza, seja mar ou campo. A montra de uma ourivesaria pouco me diz, a não ser que tenha relógios. Privilegio uma noite com um livro a uma noitada com gente a beber copos, o que não quer dizer que não aprecie um jantar com amigos e subsequente serão com uma boa conversa. 

Será suficiente estilo?

Participação no desafio da Ana de Deus

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