Numa rua estreita, vivia D. Amélia.
Senhora de muita idade, escorreita e independente, fazia a sua vida num pequena casa que apesar de não ter todas as condições desejáveis, servia à velha senhora para a sua pacata e simples vida. D. Amélia não era muito sociável, oferecia críticas a torto e direito, fosse ao município, fosse aos vizinhos, fosse aos passeantes e turistas que com as suas máquinas infernais tiravam fotografias constantemente à rua, ás janelas, às portas, à roupa pendurada nas janelas.
D. Amélia recusou a ajuda da assistência social e de alguns vizinhos, que preocupados, ofereciam-se para qualquer coisa que necessitasse. Mas, a idosa não aceitava, não queria ajuda e não deixava sequer que alguém entrasse na sua casa. Sem família, tinha uma sobrinha que morava no estrangeiro e que não via há anos, fazia as suas parcas compras na loja do Sr. Artur, mesmo ali na esquina e ninguém sabia como ocupava o seus dias. Um dia D.Amélia não se levantou da sua cama, não tinha forças para tal, e uma dor constante no peito não a deixava quase respirar. D. Amélia ficou deitada a pensar que a sua vida acabava ali, não tinha como avisar ou chamar alguém, mas sentia- se tranquila, sentia que chegava, sentia que o fim era justificado, não tinha mais nada a fazer. Dois dias depois, algumas vizinhas mais atentas aos movimentos da rua, deram pela janelinha da casa da vizinha rabugenta estar fechada e acharam estranho.
Numa rua estreita, vivia D.Amélia.