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pessoas e coisas da vida

pessoas e coisas da vida

Março 29, 2024

imsilva

 

Para compensar os dias tristes que nos vieram visitar, empresto imagens das minhas camélias, de uma simples florzinha da macieira e dos meus futuros limões, para nos lembrarmos que as coisas bonitas e coloridas estarão sempre por aí. 

Chove num dia cinzento

como se as cores da vida se desbotassem na água que cai

como se as tintas vazassem sem razão nem piedade

Só o preto restou, e em abandono

vai deixando rastos por onde passa

Mas, haverá sempre uma cor, um aroma, uma flor,

um raio de sol a aquecer um 29 de Março 

Março 21, 2024

imsilva

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PARA ESCREVER O POEMA

O poeta quer escrever sobre um pássaro:
e o pássaro foge-lhe do verso.
O poeta quer escrever sobre a maçã:
e a maçã cai-lhe do ramo onde a pousou.
O poeta quer escrever sobre uma flor:
e a flor murcha no jarro da estrofe.
Então, o poeta faz uma gaiola de palavras
para o pássaro não fugir.
Então, o poeta chama pela serpente
para que ela convença Eva a morder a maçã.
Então, o poeta põe água na estrofe
para que a flor não murche.
Mas um pássaro não canta
quando o fecham na gaiola.
A serpente não sai da terra
porque Eva tem medo de serpentes.
E a água que devia manter viva a flor
escorre por entre os versos.
E quando o poeta pousou a caneta,
o pássaro começou a voar,
Eva correu por entre as macieiras
e todas as flores nasceram da terra.
O poeta voltou a pegar na caneta,
escreveu o que tinha visto,
e o poema ficou feito.

Nuno Júdice

Março 20, 2024

imsilva

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Com raiva, alguma agressividade ou talvez, quem sabe, simplesmente frustração, deu um pontapé num pequeno tronco que apesar de pequeno era mais forte do que estava à espera, danificando a ponta da cara bota de camurça. Amor com amor se paga, pensou Cecília.

A sua avó dizia-lhe muitas vezes -" Filha, prepara-te que a vida nem sempre é como tu queres". Mas quando somos crianças, tudo o que os mais velhos nos dizem soa a exagero, e teimamos em não acreditar.

O emprego onde estivera alguns anos e que parecia ideal, não tinha durado muito. A conjuntura económica e empresarial tinha obrigado ao encerramento da empresa e dezenas de pessoas, algumas com agregados familiares ao encargo, ficaram sem saber o que fazer a seguir, uma vez que era um problema geral.

Cecília pôs mãos à obra e tentou seriamente encontrar algo que pudesse resolver a sua situação. Mas não foi fácil e o que aparecia, ou era muito longe ou era muito abaixo do que seria necessário para as suas obrigações. O seu apartamento tinha uma renda significativa, tanto pelo sítio como pela sua qualidade. E tinha ao seu encargo a mãe que internada numa casa de repouso, devido a um Alzhaimer galopante, não poderia de maneira alguma descuidar. Queria fazer os possíveis para poder continuar onde estava.

Falaram-lhe de um escritório de advogados humilde na sua dimensão por ser bastante recente, e tentou a sua sorte. Os seu currículo servia para o posto, e quando se apresentou, foi aceite. O ordenado não era o que estava habituada, mas não estava em condições de recusar. Eram 4 pessoas que a muito custo faziam com que o escritório ganhasse alguma credibilidade. Entre eles um homem que mexia com as emoções de Cecília, e quando deu por isso já estava perdidamente apaixonada. Pensando ser correspondida, deu tudo de si e sonhou com algo mais, mas, "a vida nem sempre é como nós queremos", lembrou mais tarde. Claro que tinha que ser casado, claro que tinha que ter três filhos, claro que tinha que contar a velha história do, "não sou feliz no meu casamento" mentindo com quantos dentes tinha,

Cecília deixou o escritório. Não conseguiria ver aquele homem à sua frente todos os dias, e assim voltou ao desespero. O estado de saúde de sua mãe agravava-se, deixando-a impotente perante a ideia de ficar sozinha, mais sozinha do que já estava.

Naquele dia, completamente desajustada nas emoções, no meio de um jardim onde esperava encontrar alguma paz e discernimento, deixou-se cair no chão com as pernas cruzadas, apoiou os cotovelos nos joelhos e a cabeça nas mãos entrelaçadas e finalmente deixou as lágrimas correrem. Quem sabe se com as lágrimas não sairiam também dores, tristezas e amarguras?

Ao mesmo tempo o céu, talvez em solidariedade, mandou as nuvens chorar também.

Cecília olhou para cima, sentiu gotas de água a cair-lhe na cara, sorriu, agradeceu e sentiu-se acompanhada.

Uma brisa

1Foto, 1 Texto

Março 15, 2024

imsilva

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Uma brisa

Quando uma brisa morna passa por mim, fecho os olhos e beijo-a.

Agradeço o seu suave toque e a tranquilidade que me inunda o ser.

Os aromas inebriantes, que me traz como bagagem, a flores, a fresco e a terra, limpam-me a alma e fazem-me acreditar.

Abro os olhos e vejo fios do meu cabelo branco a esvoaçar na minha frente, numa dança sem coreografia certa, mas perfeita e suave.

Deixo-me embalar por uma melodia inexistente, e pelos raios de sol que a acompanham, completando a perfeição do bailado.

Uma brisa só, é suficiente para uns momentos de felicidade.

 

Camelos... What'else?

1 Foto, 1 Texto

Março 08, 2024

imsilva

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Não quero chamar nomes a ninguém, mas estes simpáticos bichinhos fazem-me lembrar outros bichinhos que têm andado por aí a passear, a dar beijinhos a toda a gente, a levar apertões que valha -me Deus, e quando ao fim do dia chegam a casa, é isto...

Mas, se repararem bem, se pegarem numa lupa, vão ver lá ao fundo uma camela em pé, sempre a postos como é apanágio das mulheres. (Senti-me mal por não ter feito um post todo bonito sobre a importância das mulheres (como é obrigatório neste dia), vai daí, creio que matei dois coelhos de uma cajadada só.) 

Gata em lareira fria

1 Foto, 1 Texto

Março 01, 2024

imsilva

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Este post estava destinado a ser algo poético inspirado pela bela Angie, que posando na lareira, obrigou-me a tirar esta fotografia. Mas, na vida nada está definido ou programado (por muito que pensemos que sim), e houve uma conversa que me deixou inquieta. 

O ser humano e as suas inquietudes, poderia ser o título, mas o que já estava programado pareceu-me o indicado para a foto e não quis mudar.

A vida é curta, hoje sei disso. Quando somos jovens não parece, mas à medida que os anos vão passando apercebemo-nos que é tudo muito rápido. A conclusão a que chego é que não vale a pena tantos sonhos e projectos, a vida dá-nos a volta com uma pinta bruta. Tentemos viver com calma, sem grandes alaridos, protegendo os nossos direitos à nossa quota parte de momentos felizes, à nossa dose de sonhos e desejos concretizáveis, e usufruindo da oferta de um sítio onde se vêm coisas lindas chamadas coisas da natureza. Creio haver poucas coisas mais perfeitas e que dêem tanta felicidade e bem estar como as estrelas, um pôr do sol, uma lua brilhante no meio de veludo escuro, um mar onde ondas se pavoneiam para a frente e para trás, um dia calmas e no outro zangadas, flores de milhentas cores, aromas e formas, árvores de diversos formatos e tamanhos que nos fornecem oxigénio, que ainda nos dão perspectivas de várias cores segundo a estação em que estamos. Todas estas coisas estão aí, ao alcance de quem quiser perder (ou ganhar) algum tempo a saborear. Não é difícil ter momentos felizes sem ter de ir às Maldivas ou ao Hawai.

Mas as mentes dos seres humanos não são todas iguais nem coisa que se pareça. Esqueçam a ideia de que compreendemos os problemas dos outros, que os nossos conselhos são bem vindos, e que conseguimos ver o panorama todo.

Pronto, creio que a gata em lareira fria até fica bem aqui. Porque é assim que algumas pessoas se sentem sem que possamos ajudar.

 

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