Agosto 30, 2023
imsilva
"Dois burros velhos planeavam as bodas de prata. Já tinham passado metade das suas vidas juntos e partilhado muitas burrices.
A primeira burrice foi a do Hi-Hon: mal se conheceram, ainda jovens, zurraram "Hin-Hon" ao mesmo tempo e casaram imediatamente.
A segunda burrice repetia-se de cada vez que alguém os obrigava a atravessar uma estrada, e era esta a sua burrice preferida: a meio caminho, firmavam as patas e não havia força no mundo que os arredasse dali.
A última burrice dos dois foi a burrice da orelha de burro:
Na noite anterior às bodas de prata, sabendo que o burro era muito esquecido, a Burra fez-lhe uma pequena dobra na orelha direita.
E o que é que aconteceu?
O Burro ficou com a orelha tapada e, como já era surdo da orelha esquerda, continuou a dormir quando o galo cantou e dormiu até à noite, passando todo o dia de festa a ressonar.
Até que a Burra, exasperada, bufou furiosamente e pôs fim às bodas de prata. Pegou, então, nas suas patas teimosas e disse: "Vou-me embora!"
Afastaram-se a trote, de focinhos empinados, cada um decidido a encontrar um parceiro melhor.
A Burra foi para sul e o Burro...foi para sul também." (...)
Adelheto Dahimène e Heide Stöllinger. In, "Burros".