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pessoas e coisas da vida

pessoas e coisas da vida

Maio 08, 2020

imsilva

Este desafio foi lançado pela Ana, a que se seguiram a Amor liquido, a Bii yue, o José , a   e a Luisa , que remeteu para mim. E eu desafio a  Olga para algo mais do que continuar com a narrativa do conto. Com autorização da criadora ,Ana de Deus, vou pedir à Olga que faça também uma  ilustração sobre o mesmo. Não faço bem? Eu acho que sim. Só resta saber se o duplo desafio é aceite.                                                                                                      Então vou lembrar que o texto não deverá ter mais de 200 palavras, e  que deve ser usada a tag "desafio do conto". Também que terás que copiar todo o conto para o teu post.

 Como se percebe a minha participação está no fim a negrito. 

 

Era uma vez uma jovem mulher, de seu nome Clariana, que pastoreava gansos. Ela era o primeiro ser vivo que os gansos reconheciam, desde tenro berço, e eram lhe totalmente fiéis. Aprendera com o avô todos os segredos desta mestria.

Clariana era a mais velha de três irmãos, todos eles filhos de Izabel e João Bernardo. Uma família de origens humildes que ocupava os seus dias na tranquilidade do campo, entre a lavoura do trigo, da batata, e a agropecuária. Izabel ocupava-se de todos os assuntos relacionados com a atividade económica do que produziam, contando com a ajuda de Clariana no terreno, junto dos animais, e Juca, a forma carinhosa como o pai era tratado, debruçava-se sobre a contabilidade da família. Os gémeos Tiago e Guilherme eram ainda pequenos, pelo que o seu maior contributo era a alegria constante que ofereciam àquela herdade. Construída em 1950, tinha sido herdada pela filha do avô Eurico.

A vida era pacata, a rotina de vida campestre pouco variava até um dia, que Clariana estava a alimentar os seus gansos e vê um vulto a esconder-se por entre as árvores. Com o coração a bater de medo, mas com a sua faceta corajosa a vir ao de cima, começa a caminhar devagar e numa tentativa de fazer barulho. O vento fazia com que as folhas batessem umas nas outras, os gansos grasnavam baixinho. O vulto parecia estático e Clariana tentava movimentar-se silenciosamente, sentia o suor frio a escorrer pela sua pele, o seu corpo tremia com o medo e adrenalina. Estava bastante perto do vulto quando os gansos começam a grasnar alto e entram em luta uns com os outros, com o susto ela manda um grito, olha na direção dos gansos e quando volta o seu olhar para as árvores não podia acreditar no que via.

Uma velha muito velha, baixa, de faces lavradas pelos anos e quiçá pelas demasiadas intempéries, olhava com curiosidade para a pastora. Nas mãos, magras e engelhadas, balançava um cajado preto da sujidade e assaz puído do uso.

Trajava uma roupa suja, aqui e ali deveras esfarrapada. O cabelo cinza encontrava-se escondido por debaixo de um lenço, também ele viúvo de cor e lavagens. No entanto os olhos pequenos e escuros permaneciam muito atentos ao que se passava em seu redor.

Entre o susto e o espanto Clariana encheu o peito de ar e enfrentou a anciã:

- Quem é vossemecê?

A idosa pareceu querer sorrir, mas a única coisa que conseguiu mostrar foi uma boca desdentada. Aproximou-se e passou os dedos sujos pelo cabelo bonito da jovem. Depois pela face. Esta desviou-se para trás alguns passos.

Curioso é que os gansos, sempre tão barulhentos, haviam-se silenciado por completo.

- Diga lá quem é vossemecê? – insistiu em tom peremptório, sem denunciar qualquer receio.

Novo sorriso da idosa que mais parecia um esgar… Por fim endireitou-se, abriu os braços e aproximou-se novamente da miúda, como se a quisesse envolver nos seus trapos rotos e nojentos.

Disse então numa voz rouca e cavernosa:

- Como assim, quem sou eu?!... que raio de pergunta é essa Clariana?!...

- Vossemecê não se faça de desentendida e diga-me quem é, que eu já começo a perder a paciência!!! – disse, franzindo o sobrolho, em sinal de desagrado.

- Eu sou tu!... bem-vinda ao futuro! – disse a velha, abrindo os braços na sua direcção e soltando uma estridente gargalhada!

Clariana empalideceu, as pernas tremeram-lhe e caiu desamparada no chão.

Os gansos, agitados, começaram a grasnar de forma intempestiva, gerando um ruído ensurdecedor que atraiu a atenção de quem passava.

Clariana sentiu uma mão macia a afagar-lhe o rosto, abriu os olhos lentamente e foi surpreendia pela imagem de um belo jovem ajoelhado a seu lado, que lhe perguntava:  - a menina está a ouvir-me?!...

Assustada, e sem perceber o que havia ocorrido, tentou levantar-se rapidamente mas a sua tentativa foi infrutífera… a cabeça pesava-lhe e parecia que tudo girava à sua volta…

O rapaz disse-lhe, com voz doce: - fique calma e não tente levantar-se… a menina caiu e perdeu os sentidos… vamos levá-la ao hospital para fazer alguns exames e garantir que está tudo bem. Eu acompanho-a na ambulância!

Clariana não queria acreditar na beleza do jovem rapaz. Louro, elegante, bem vestido e cheio de modos da cidade. Nunca tinha visto um rapaz tão bonito! E queria acompanhá-la ao hospital!

- Não se preocupe, eu estou bem, foi só uma queda. Em vez de irmos ao hospital poderíamos ir ver como estão os meus gansos! Tenho a certeza que vão simpatizar consigo! – disse Clariana.

O jovem rapaz concordou, pois achou a ideia maravilhosa. Como vivia na cidade, nunca tinha visto gansos. Esta seria uma oportunidade maravilhosa para escrever sobre animais de quinta na sua tese de mestrado.

Assim que se aproximaram da casa de Clariana, os gémeos vieram a correr abraçar a irmã. O jovem rapaz ficou encantado com a cumplicidade que reinava naquela família.

Izabel, assim que viu a filha a aproximar-se com o belo rapaz, pensou que seria um bom partido para "desencalhar" Clariana, e, amavelmente veio cumprimentá-lo.

Juca, ao contrário, não gostou nada de ver a sua Clariana com um estranho, ainda mais um rapaz da cidade, que com certeza queria aproveitar-se da jovem do campo. Foi ao armazém buscar a caçadeira e saiu a disparar, “que nem um louco”, por todos os lados ….

 

Alguns pardais, apanhados desprevenidos pelos tiros, desalvoraram pelos céus a pensar no que se teria passado.

 -Oh paizinho, pelo amor de Deus, este simpático rapaz ajudou-me depois de eu ter desmaiado e nem queiras saber porquê, ainda estou para saber se encontrei uma bruxa ou se alucinei.

 - Oh homem tem calma, não há razão para isso tudo, olha se tens acertado em alguém, tinhamos a vida desfeita - disse Izabel - E o senhor desculpe esta reação do meu marido, mas quando diz respeito à filha, perde as estribeiras.

 - Claro, compreendo. Já agora o meu nome é Rodrigo, Rodrigo Mendonça. Peço desculpa pela intromissão, mas assustei-me quando vi a sua filha desmaiada.

 - E tu filha, estás bem? Tens a certeza que não é preciso ir ao hospital?

 - Estou bem mãe, não passou de um susto. Convidei o Rodrigo para vir ver os gansos. Não fiz mal, pois não?

 - Claro que não filha, e Rodrigo, o almoço está quase pronto, gostaria de nos fazer companhia? É um agradecimento pelo que fez.

 - Bem, realmente não tenho pressa de seguir caminho, por isso, aceito com muito gosto.

Aí, João Bernardo viu-se na obrigação de pedir desculpas, que foram imediatamente aceites pelo jovem.

Mas foi quando...

(continua...)

2 comentários

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    imsilva 09.05.2020

    Boa educação acima de tudo. Se quer pinar, peça licença primeiro.
  • Comentar:

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