Novembro 06, 2020
imsilva
Chegava sempre à mesma hora
Sentava-se sempre na mesma pedra
Deixava os pés tocarem na água devagarinho, como se não quisesse partir o espelho onde via a sua imagem, mas era impossível.
Assim que tocava com o mais pequeno pedaço de si, a imagem reflectida distorcia-se e esfumava-se.
Era isso que sentia na sua alma, quando queria tocá-la, entendê-la, ajudá-la, esfumava-se por outros espaços, por entre espelhos de água noutro além.
E então chorava. Sentia-se perdida, sem rumo, sem chão.
Tentava ver o caminho, tentava com muita força imaginar um futuro, mas tudo se esbatia na impossibilidade de cura de quem lhe iluminava a vida.
Naquele dia, desesperada, bateu com força os seus pés na água.
Naquele dia, não queria mesmo ver a sua imagem reflectida em espelho de água algum.