Espírito de Natal
O meu conto de Natal
Dezembro 21, 2022
imsilva
Alguém mexia o tacho do arroz doce, que toda a gente sabe que tem de ser muito bem mexido, enquanto outro alguém batia as claras em castelo para a mousse, que também toda a gente sabe que têm de ser muito bem batidas. Do forno saía um cheirinho de frango, como nunca saia o resto do ano, ainda não se tinha percebido o porque de só naquela altura do Natal o cheiro ser tão apetecível. As crianças corriam umas atrás das outras, porque toda a gente sabe que é isso que as crianças fazem, e os homens traziam as mesas extras das arrecadações, que toda a gente sabe que são sempre precisas nestas ocasiões.
Para além da algazarra que se fazia sentir, a ocasião pedia algum som natalício para completar o ambiente, assim soavam músicas de Natal na aparelhagem da sala, e isso obrigava a todos se lembrarem da época em que estavam e qual o motivo para estarem todos a contribuir para tão belo e perfeito serão. Claro que toda a gente sabe que esses serões são tudo menos perfeitos, mas, faz-se o que se pode!
O espírito de Natal furava por aqui e por ali, e ia-se fazendo sentir com intervalos, mais ou menos duradouros.
Ao fim de todos os preparativos estarem concluídos, das cozinheiras de serviço conseguirem tirar os aventais da frente, de toda a gente estar sentada na cadeira correspondente, ou não, a algazarra continuou agora com mais alegria perante tudo o que de bom a mesa continha.
De vez em quando, alguém pousava os olhos no aparador da casa de jantar, e olhava subrepticiamente para a fotografia dela, que por sua vez, olhava para eles e por eles, transmitindo-lhes o orgulho que sentia por estarem todos ali a viverem o espírito de Natal, como ela tanto gostava.
Gostaria que este texto, muito pouco ficcionado, servisse para o "desafio das 52 semanas de 2022" tema 51 da nossa Ana de Deus.