Fevereiro 05, 2021
imsilva
Num filme alguém perguntava a outro se tinha filhos. A pessoa respondeu que não, que era demasiado egoísta para isso. O primeiro disse que ter filhos era um acto muito mais egoísta.
Não creio que algum dos dois tivesse razão, não creio que seja uma questão de egoísmo, mas sim de opção.
Tão feliz pode ser um como o outro. Terão vidas diferentes certamente, experiências que sendo igualmente enriquecedoras, não terão muito em comum.
Em tempos acreditei que ter filhos fazia parte, não como obrigação, mas por vocação. Era para mim difícil entender que alguém poderia não querer ter filhos. Hoje entendo que o mundo mudou, que filhos podem não fazer parte da equação.
Noutras gerações vivia-se para ter descendência, ou para ter mão de obra, ou para ter a quem deixar o espólio, curiosa a distância entre estes dois motivos.
Na minha experiência, desejei ter filhos desde que me lembro de ser gente. Imaginava um rancho deles, e empregadas para tratar da roupa, para limpar ranho, para por a chucha durante a noite.
Tive três filhos, a terceira veio clandestina, creio que foi a minha vontade escondida, como disse o meu marido, e então entendi que a vida real não tem a ver com a imaginação, que não quereria outra pessoa a limpar ranho, a por a chucha durante a noite (quer dizer...) a apaziguá-los durante os pesadelos nocturnos, ou a dar-lhes um beijinho no dói dói que fizeram enquanto andavam desarvorados a correr, quando já tinha dito que não queria correrias.
Já falei destas coisas aqui, e também das dores quando crescem e ficam parvos aqui.
Mas hoje quero dar a mão à palmatória, e reconhecer que a vida pode passar por não ter filhos, por realizar tantas outras coisas, é só decidir quais os objectivos de vida, porque hoje acredito que há mais, muito mais, e que tudo é válido para ser feliz, é só encontrar o caminho para lá.