Março 19, 2021
imsilva
Num programa na RTP, sobre a enigmática Elena Ferrante, um escritora, Elizabeth Strout, referiu se o mistério que envolve a identidade de Elena, será relevante para a sua obra.
Qual a importância do autor ser Y ou X num trabalho, quem é mais importante, o autor ou a sua obra?
Atrás de um bom livro, imagino que estará sempre um bom escritor, uma boa ideia, ou uma bela inspiração.
Isso fez-me recordar, ainda não há muito tempo, a polémica que levou vários artistas entre actores, realizadores e afins, a serem acusados de violação e assédio sexual. Na altura houve quem recusasse as obras que esses artistas tinham na praça, e eu pensei se as obras deixariam de ser boas porque os autores deixaram de ser bons seres humanos.
Deixaria eu de ver os filmes de Woody Allen, ou de assistir aos trabalhos de Kevin Spacey por serem acusados de tal coisa? Deixam de ser bons no seu trabalho, por serem acusados ?
Reparem que digo "acusados". Tenho uma certa dificuldade em aceitar algo que não esteja devidamente comprovado. O meu lado naif a prevalecer ao senso comum dos comuns mortais que aceitam imediatamente certos factos como verdadeiros à primeira.
Mas voltando à ideia inicial, será a obra mais importante e aí será o criador menor? Ou a partir do momento em que existe um criador, ele será o que prevalece, será ele o magnânimo tirando valor ao que criou, por demonstrar não ser digno?
Eu fico um pouco baralhada no meio destas vicissitudes, e no caso de Elena Ferrante, não foi acusada de nada ( talvez de muito boa escritora) mas a pergunta era, se seria assim tão importante saber quem é, ou se a sua obra basta para lhe dar-mos os louros merecidos.