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pessoas e coisas da vida

pessoas e coisas da vida

Fevereiro 01, 2022

imsilva

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Tenho lido alguns textos em resposta ao desafio da Ana de Deus, de colegas da minha geração, e serviu para confirmar que os pais também são geracionais. 

Os pais daquela época eram mais frios, apesar de amarem e quererem o melhor para os seus filhos. Talvez por também não terem tido o calor dos abraços, ou os olhares ternos que hoje não temos qualquer problema em mostrar, porque os pais deles também não o sabiam fazer e tinham vidas ainda mais complicadas. Eu falo da vida que por aqui se levava, e acreditem que me custa a acreditar nas histórias que lhes ouço, sabendo que são verdadeiras.

A minha mãe pouco conta daquela época, com 8 anos foi servir para a cidade, e com esse afastamento de casa as memórias não são muitas. Perdeu o pai com 6 anos e a mãe teve que levar 7 filhos para a frente, com pouco apego e muito desembaraço. Conheci a minha avó e gostava daquele ar duro que demonstrava, mas que se notava que com a idade era mais fachada do que outra coisa. O meu pai, apesar das dificuldades, eram também 7 irmãos, conta mais a sua história. A sua paixão pela mãe maravilhosa que teve, e que eu posso confirmar, e o pai que nenhuma atenção dava, e do qual um dia destes vou contar um episódio que trouxe as lágrimas aos olhos do meu pai quando a relatou há pouco tempo.

Os meus pais são hoje mais doces do que foram, devido à idade, à vida mais calma que passaram a levar sem as preocupações de pagar contas e descobrir como o poderiam fazer, e aprenderam as demonstrações de carinho com os netos e os bisnetos. Hoje são mais doces, e gostam disso. Mas ninguém lhes tinha explicado que a autoridade paternal não se perdia se houvesse mais beijinhos e abraços e "diz-me como estás, como está a tua vida na escola, tens algum problema em que eu possa ajudar?"

Hoje vivem a nossa vida, os nossos problemas com muita intensidade, tal que alguns não chegam a conhecer para evitar-lhes preocupações. Estão sempre disponíveis para o que for, e apesar das mazelas que de vez em quando os manda abaixo, continuamos a contar com eles. O meu pai a dar os seus infindáveis conselhos, e a minha mãe sempre a perguntar por todos os que não estão tão perto, e que lhe deixa uma ruga de preocupação na frente. A felicidade maior é conseguirmos estar todos juntos, quantos mais, quanto mais algazarra melhor, e já somos peritos em inventar motivos para tal.

Durante a pandemia, fizemos o melhor que pudemos para que não ficassem muito isolados. Não têm sido tempos fáceis para eles, aceitar que um estúpido vírus manda em nós, não é fácil de entender para quem passou por tantas coisas boas e más, mas que podiam comandar.

Que pais estaremos nós a ser? que dirão de nós um dia?

Meus filhos, se um dia lerem isto que seja para perceberem que tentamos, bem ou mal, tentamos fazer o melhor que pudemos e soubemos. Sejam caridosos! 

Fevereiro 12, 2021

imsilva

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Na quarta-feira, na RTP, na entrevista de Vitor Gonçalves ao Psiquiatra e Psicoterapeuta Vitor Cotovio, sobre saúde mental, (se possível vejam), falou-se de algo que eu ainda não tinha ouvido, mas já tinha pensado.

Alguém perguntou aos idosos que isolaram nos lares sem visitas, sem carinhos familiares, aqueles que deixamos em casa sozinhos porque havia aí um vírus à solta, aqueles que entendemos (sim, eu também) que ficariam melhor sem os nossos beijos e abraços, se era isso que preferiam? Creio que não.

Os meus pais apesar de terem a sua idadezinha, estão muito bem, e foi-lhes explicado o que se estava a passar, e que seria melhor restringirmos as nossas visitas e os nossos afectos. No 1º confinamento foi mais moderado, os beijinhos foram deixados para trás, mas havia os abracinhos e algumas refeições feitas em conjunto. Em Setembro a minha mãe fez anos e recusou a ideia de não irmos todos jantar como é habitual nestas alturas. Consciente da época que estamos a viver, foi a decisão tomada, apesar do suposto risco que poderíamos (poderiam) correr. No Natal reduzimos o nº mas juntamo-nos, seria impensável os meus pais passarem sozinhos essa festa. 

Veio o Janeiro e o "estado da nação" obrigou-nos a outros cuidados. Não perguntamos, mas falamos de como teria que ser para que ninguém fosse parar ao hospital. O meu pai entretanto fez anos e com máscara, sem afectos físicos, sem almoço nem jantar de celebração, fui lá a casa para conectar a família em vídeo chamada e podermos de alguma maneira estar com ele nesse dia. Foi muito duro.

E se lhes perguntasse directamente se não se importam de viver assim, se prefeririam correr o risco e ter a companhia que sempre tiveram antes? Somos muitos e sempre houve alguém a almoçar lá em casa por um motivo ou por outro ( muitas vezes por nenhum).

Tenho medo de perguntar, porque sei como pensam. Provavelmente diriam que já não têm assim tanto tempo de vida, como para desperdiçar sozinhos em casa a implicar um com o outro, sem aquela família maluca à volta deles. Tenho medo que tenham razão. 

Há pouco vi um pequeno texto que dizia que os avós têm que esperar pelos "abraços quentinhos". Que se deseja que os números de óbitos por covid, desçam a zero. E eu espero que não seja só aí que eles possam ser abraçados, porque se assim for, muitos desses avós não chegarão a receber esses abraços.

Novembro 25, 2020

imsilva

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" Ó avó, conta uma história...
As avós foram feitas para contar histórias. Ninguém sabe contar histórias como as avós. As avós sabem que não podem abrir só o livro e por isso abrem também o coração. As avós nunca têm pressa. Sabem que as coisas feitas à pressa para ganhar tempo são aquelas que o tempo apaga mais depressa. Por isso, as avós demoram as palavras. Demoram as palavras para demorar o amor. Só o amor que leva tempo resiste ao tempo. Assim, quando a história acabar, as avós ficam. A sua voz doce permanece. Era uma vez uma princesa no meio de um laranjal. Conta outra vez essa, avó. E a avó volta ao início dos tempos e há cheiro de laranja no ar."

lado.a.lado.
Elizabete Bárbara

A casa

Saudade

Outubro 02, 2020

imsilva

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Lembra-se da casa, de quando era pequena. Uma casa de tijolo, de janelas com portadas azuis e na porta um batente em forma de punho.

Que saudades...

Lá dentro as paredes estavam pintadas de um verde "seco" e as janelas, que ela se lembrava de ver o avô de vez em quando de roda delas a raspar e a pintar, eram brancas. As cortinas eram às flores, côr de rosa e vermelhas com muitas folhas de várias verdes, entre eles o tal verde "seco". E como alegravam a casa. Nessas mesmas janelas, lembrava-se de encima de um banco, espreitar para as casas do outro lado da rua, e de ver a senhora do cão a tratar do jardim e das magnificas rosas que lá tinha.

Por baixo das escadas que davam para o 1º andar, havia um espaço maravilhoso onde gostava de passar o tempo. Levava um cobertor, punha-o no chão, e era lá que lia um livro,  que pintava desenhos ou que vestia e despia as bonecas com as roupas que a avó lhes fazia.

No Inverno acendiam a lareira e sentava-se ao colo do avô para ouvir as suas histórias. A avó tinha sempre bolinhos e bolachas que fazia no grande forno da cozinha, e que deixava a casa a cheirar maravilhosamente bem. 

Que saudades...

Hoje a casa já não cheira a bolos, os avós já não estão lá há uns anos, e ela já não é pequena.

Hoje ela está à cabeceira da avó, que depois de muitos anos de luta e de dar amor e atenção a toda a gente, vive os seus últimos momentos.

E ela com saudades de tudo o que viveu naquela casa, e com quem o viveu, pensa em lá voltar, pensa que tem de vê-la porque...quem sabe?

 

Texto escrito no âmbito deste Desafio

 

 

 

Maio 11, 2020

imsilva

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Ser avó é...

Ter desenhos fantásticos, muito melhores que os do van Gogh.

E ouvir opiniões muito próprias;

- O Coronavírus é um micróbio mau, que não gosta de crianças que lavam as mãos e beben água.

- Sinto-me triste porque é chato ficar em casa sem ver os outros, mas é bom ficar em casa.

- Já morreram muitas pessoas na China.

- Eu gosto de dançar, mas não com estilo, gosto de dançar à maneira divertida.

Tivemos direito a visita ao fim de mais de dois meses. O abraço que foi dado por eles, só acabou porque tinham que abraçar também o avô. Nunca soube tão bem ter uma casa de pernas para o ar. É toda uma decoração nova na minha sala.

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