Azul claro
Vamos pintar com palavras? 7
Março 03, 2021
imsilva
O vestido
- Oh Claudina, onde tu vais mulher ? - perguntou a vizinha cusca.
- Oh vizinha, vou só ali à loja da Alzira comprar uma coisinha. - respondeu a Claudina quase a fugir de dizer mais alguma coisa.
Porque o problema ali era que não convinha nada que a vizinha se apercebesse, que ela ia comprar um vestido que tinha encomendado a semana passada na loja da Alzira. Se a vizinha adivinhasse, ia querer comprar um igual. Ela sempre fora assim, invejosa e alcoviteira, a querer saber de tudo e de todos, principalmente dos passos que ela dava, e pior do que isso, imitando-a em tudo o que ela fazia.
Mas agora ia conseguir manter o segredo, e quando fossem à festa de Domingo, no Centro Recreativo, onde todas as festas da aldeia aconteciam, iria fazer um brilharete com o vestido novo azul claro, cor do céu nos dias de Verão, com uns debruados na gola e nas mangas a três quartos, em azul escuro.
Depois de chegar a casa com o seu precioso embrulho, depois de certificar-se que a vizinha não estava à janela, a Claudina abriu-o e não cabia em si de contente com o seu maravilhoso vestido e a imaginar já a cara da outra quando a visse.
A semana passou depressa e quando chegou o dia, a Claudina viu-se ao espelho, pôs o seu colar de pérolas que até pareciam verdadeiras, um pouco mais de pó de arroz, o inevitável batom, e vestindo o casaco comprido azul escuro, deu o braço ao marido que estava elegantíssimo com o fato que dava para tudo o que era mais cerimonioso, e encaminharam-se para o edifício que albergava o Centro onde haveria o comes e bebes, seguido por um belo de um bailarico abrilhantado pelo trio musical lá da terra.
Quase já à porta, encontraram-se com a vizinha que vinha com o seu habitual casaco comprido castanho, e entraram practicamente ao mesmo tempo. Cumprimentaram-se com mais cerimónia do que seria normal, devido ao evento em que estavam, e dirigiram-se ambas para o espaço que estava destinado a servir de bengaleiro, onde cada um deixaria o seu casaco para ficarem mais livres para percorrer a sala e poder dançar mais à vontade.
Claudina começa a tirar o seu casaco e quando olha para o lado e vê a sua vizinha fazer o mesmo, fica petríficada, e ao mesmo tempo encalorada com as cores a subirem a toda velocidade para a cara. Quando conseguiu ter alguma reação, tornou a pôr o casaco e chamando o marido diz-lhe - Anda Alberto, que esqueci-me da sopa ao lume.
O pobre marido, sem perceber nada daquilo, pois sabia que não havia sopa alguma ao lume, sai com a Claudina e pergunta-lhe - Oh mulher, o que é que te deu ?. Ao que a Claudina com a cara mais furiosa que alguma vez alguém lhe viu, respondeu - Ai homem, que aquela mulher é o demo em figura de gente, então não é que tem um vestido igual ao meu ...?!
texto no âmbito do Desafio caixa de lápis de cor