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pessoas e coisas da vida

pessoas e coisas da vida

Vermelho

Vamos pintar com palavras? #11

Março 31, 2021

imsilva

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Batom vermelho de sangue

Deixou-se escorregar até ao chão naquele canto da casa de banho, depois de ter fechado a porta à chave. 

Sangrava do nariz e o vermelho do sangue,  misturava-se com o vermelho do batom causador do estado em que se encontrava.

Quando é que ela deixou de ser uma mulher com amor próprio,  sem medos? Onde estava a sua dignidade?

Há um mês atrás,  por causa de um vestido que ele tinha achado demasiado decotado, tinha-a empurrado contra a parede e ela ficara sem mexer o braço durante três dias e com o ombro negro durante duas semanas. Como é que estava novamente naquelas condições?

E agora tinha sido tudo por causa de um batom comprado num impulso, numa tarde de compras com a irmã.

- Onde é que tu julgas que vais com a boca toda borrada de vermelho?!

Ainda tinha a sua voz a ecoar na cabeça,  e aterrorizada, ainda sentia na cara a pancada que ele lhe dera.

Ouviu a porta da rua bater. Ele tinha saído. 

Levantou-se devagar, e com as lágrimas a correr, foi até ao lavatório lavar a cara e estancar o sangue ate este parar. Pegou na escova, e passou-a no cabelo olhando-se no espelho, sentindo tanta pena de si própria. 

Saiu da casa de banho e calmamente dirigiu-se ao quarto, tirou a blusa suja de sangue, vestiu uma limpa, vestiu o casaco, pegou na mala e caminhou para a porta da rua.

Ao passar pela sala, olhou para as rosas vermelhas que ele lhe dera no dia anterior, pelo seu 8° aniversário de casamento, e que neste momento estavam espalhadas no chão. A jarra tinha sido derrubada durante a agressão. 

Saiu de casa, andou durante meia hora, parou quando chegou ao destino,  olhou para o edifício e entrou. Dirigiu-se ao balcão sentindo o movimento à sua volta, e dirigiu-se ao agente da policia que estava de serviço. 

 

Texto no âmbito do Desafio caixa de lápis de cor

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Verde claro

Vamos pintar com palavras? # 10

Março 24, 2021

imsilva

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Verde água 

Era a cor daquele lago 

Lembras-te?

Teremos sido felizes naquele lago?

Olhavamo-nos com sofreguidão 

Como se pudéssemos desaparecer se afastássemos o olhar um do outro

Teremos sido felizes lá , ou terá sido pura ilusão

Pura necessidade de agradar, de pensar que era aquilo 

Mas, aquilo o quê

O que pensamos ser inevitável 

A supressão do nosso eu 

Em prol do que se esperava de nós...

Hoje olho para ti com conforto, com confiança 

Mas, será com amor?

Sê meu amigo, meu camarada, meu companheiro

Mas...não o meu amor

Amarelo

Vamos pintar com palavras ? # 9

Março 17, 2021

imsilva

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Aniversário

Abriu os olhos e percebeu a claridade que entrava no quarto, olhando para a janela viu um pedaço de céu muito azul, e ficou contente por ter um belo dia de sol no dia do seu aniversário.

Espreguiçou-se com vontade e sentiu a gata ao seu lado a fazer o mesmo. Agarrou-a e deu-lhe os miminhos habituais como o maior carinho do mundo, nunca tinha imaginado apaixonar-se assim por um animal, mas aconteceu e hoje sentia-a como a sua melhor companhia.

Pensou no alinhamento do dia, tinha combinado almoçar com os pais e os avós, e vendo os ponteiros do relógio da sua mesa de cabeceira, decidiu sair da cama e tomar um demorado banho se imersão. Quando voltou para o quarto, escolheu o que iria vestir, não sem pensar que a sua mãe tinha razão quando implicava com o seu guarda roupa que só tinha peças super prácticas, e onde segundo ela, faltavam as peças que qualquer jovem adulta com alguma vaidade gostaria de vestir. De repente lembrou-se de um vestido amarelo com pequenas florzinha brancas, que a sua mãe um dia a tinha convencido a comprar, e que ela até tinha gostado acabando por adquirir. Procurou-o no canto do armário e vestindo-o, olhou para o espelho da parede que lhe dava uma imagem dos pés à cabeça, e gostou do que viu. Ficando decidido que seria aquela a sua fatiota para aquele dia, desceu para tomar o pequeno almoço e encontrou na pequena mesa da cozinha um envelope acompanhado pelo mais lindo ramo de túlipas que já vira. O namorado tinha saído muito cedo de casa, mas antes tinha-lhe preparado este pequeno mimo. Leu a mensagem que ele lhe deixara com um sorriso na cara, e pegando no belo ramo para o pôr em água, pensou na sorte que tinha, um namorado que adorava e uma família com que se sentia realmente feliz.

Depois de tomar o pequeno almoço, arrumou a cozinha a pensar que apesar de tudo o que se passava no mundo, ela estava bem, os seus estavam bem, e fazendo mais uma festa à gata, deu mais uma vista de olhos às suas flores, apreciando o amarelo das suas bonitas pétalas e saiu de casa, sentindo que este seria um bom dia.

 

Hoje a minha filha faz anos, e inspirou-me para este texto que mistura muito pouca ficção e muito de realidade.

Parabéns Maria. Sê feliz, porque tu mereces. ❤

 

Texto no âmbito do Desafio caixa de lapis de cor

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Cor de rosa

Vamos pintar com palavras ? #8

Março 10, 2021

imsilva

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Memórias em rosa

 

Cor de rosa eram os laçarotes que a mãe lhe costumava pôr no cabelo.

Cor de rosa os sonhos que todas as noites lhe faziam companhia, quando dormia na sua pequena cama com o seu amigo coelho Ní.

Cor de rosa fora a festa do seu sexto aniversário.

Cor de rosa era o chapéu de chuva que a avó lhe dera naquele ano em que vivera lá em casa, antes de a levarem para o "lar", onde diziam que estaria melhor.

Cor de rosa o xaile que no Natal lhe fora levar ao "lar", justamente antes de a avó morrer no sítio onde supostamente ela estaria melhor.

Cor de rosa fora o casaquinho que fizera durante a sua 1º gravidez para a sua 1º filha.

Cor de rosa seria o casamento que ela tinha imaginado...

Cor de rosa era a cor de algumas das suas mais importantes memórias, que vinham lá de longe no tempo.

Havia memórias de outras cores muito mais escuras na sua vida, mas essas, ela não queria recordar.

 

Texto no âmbito do Desafio caixa de lapis de cor

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Azul claro

Vamos pintar com palavras? 7

Março 03, 2021

imsilva

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                       O vestido

 - Oh Claudina, onde tu vais mulher ? - perguntou a vizinha cusca.

 - Oh vizinha, vou só ali à loja da Alzira comprar uma coisinha. - respondeu a Claudina quase a fugir de dizer mais alguma coisa.

Porque o problema ali era que não convinha nada que a vizinha se apercebesse, que ela ia comprar um vestido que tinha encomendado a semana passada na loja da Alzira. Se a vizinha adivinhasse, ia querer comprar um igual. Ela sempre fora assim, invejosa e alcoviteira, a querer saber de tudo e de todos, principalmente dos passos que ela dava, e pior do que isso, imitando-a em tudo o que ela fazia.

Mas agora ia conseguir manter o segredo, e quando fossem à festa de Domingo, no Centro Recreativo, onde todas as festas da aldeia aconteciam, iria fazer um brilharete com o vestido novo azul claro, cor do céu nos dias de Verão, com uns debruados na gola e nas mangas a três quartos, em azul escuro.

Depois de chegar a casa com o seu precioso embrulho, depois de certificar-se que a vizinha não estava à janela, a Claudina abriu-o e não cabia em si de contente com o seu maravilhoso vestido e a imaginar já a cara da outra quando a visse.

A semana passou depressa e quando chegou o dia, a Claudina viu-se ao espelho, pôs o seu colar de pérolas que até pareciam verdadeiras, um pouco mais de pó de arroz, o inevitável batom, e vestindo o casaco comprido azul escuro, deu o braço ao marido que estava elegantíssimo com o fato que dava para tudo o que era mais cerimonioso, e encaminharam-se para o edifício que albergava o Centro onde haveria o comes e bebes, seguido por um belo de um bailarico abrilhantado pelo trio musical lá da terra.

Quase já à porta, encontraram-se com a vizinha que vinha com o seu habitual casaco comprido castanho, e entraram practicamente ao mesmo tempo. Cumprimentaram-se com mais cerimónia do que seria normal, devido ao evento em que estavam, e dirigiram-se ambas para o espaço que estava destinado a servir de bengaleiro, onde cada um deixaria o seu casaco para ficarem mais livres para percorrer a sala e poder dançar mais à vontade.

Claudina começa a tirar o seu casaco e quando olha para o lado e vê a sua vizinha fazer o mesmo, fica petríficada, e ao mesmo tempo encalorada com as cores a subirem a toda velocidade para a cara. Quando conseguiu ter alguma reação, tornou a pôr o casaco e chamando o marido diz-lhe - Anda Alberto, que esqueci-me da sopa ao lume.

O pobre marido, sem perceber nada daquilo, pois sabia que não havia sopa alguma ao lume, sai com a Claudina e pergunta-lhe - Oh mulher, o que é que te deu ?. Ao que a Claudina com a cara mais furiosa que alguma vez alguém lhe viu,  respondeu - Ai homem, que aquela mulher é o demo em figura de gente, então não é que tem um vestido igual ao meu ...?!

 

texto no âmbito do Desafio caixa de lápis de cor

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Côr de laranja

Vamos pintar com palavras? # 6

Fevereiro 24, 2021

imsilva

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E veio um anjo e deu uma pincelada

E veio outro e outra pincelada deu

E os pincéis eram feitos de sonhos e desejos escondidos

E as tintas de amores, de flores e de lindos pensamentos

À medida que as pinceladas iam acontecendo,

As cores iam-se formando, quentes, acolhedoras, envolventes,

E as almas que assistiam, iam sentindo o poder e a força que delas emanavam,

Iam sentindo sentimentos poderosos de gratidão,

De compaixão e de cumplicidade com o ar, com a água, com o fogo e com a terra

E os sorrisos nasciam e soltavam-se nos ventos que vinham de muito longe

Só para testemunharem aquele fenómeno de colorido e felicidade

E quem passava por ali parava para assistir, respirando um novo ar,

E até quem andava perdido pelo mundo, se reencontrava naquele momento que marca um fim,

com um recomeço prometido, numas novas pinceladas prometidas no tempo

Pinceladas que dizem, ser cor de laranja

 

Texto no âmbito Desafio caixa de lapis de cor

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Azul cobalto

Vamos pintar com palavras? #5

Fevereiro 17, 2021

imsilva

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Procurava-a por todos os canto e recantos. Era a caneta azul cobalto com que escrevia, era com ela que preenchia folhas e folhas de pensamentos e histórias.

Era a caneta azul cobalto que ele lhe tinha oferecido naquele Natal fatídico em que tanta coisa ela tinha acabado por perceber. Foi quando ela percebeu que não era com ele que queria passar o resto da sua vida, nem partilhar tudo o que o futuro lhe poderia ter reservado. Foi quando a desilusão entrou na sua vida na figura daquele homem, que com um aspecto fantástico por fora, era tão defeituoso por dentro, com tanta falta de discernimento como de sensibilidade. Simplesmente, alguém com quem não queria viver.

Mas, isso agora não interessava nada,  o que agora lhe interessava era encontrá-la, saber onde raio estava a malfadada caneta azul cobalto que tanta falta lhe fazia.

Nem o facto de ter sido ele a oferecer-lha a incomodava, porque a caneta era muito melhor do que ele. Com ela podia escrever horas seguidas, deslizava sem esforço em total cumplicidade com o papel. Era a sua grande colaboradora, e agora não sabia dela.

Enfim, nao havia muito a fazer, senão continuar à procura...

 

Texto no âmbito Desafio caixa de lapis de cor

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Verde escuro

Vamos pintar com palavras? #4

Fevereiro 10, 2021

imsilva

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Numa janela verde escuro

 

Debruçada na janela já descascada onde se viam ainda os laivos verdes escuros da cor original, olhava o mundo, a vida, o que já tinha passado, o que acontecia e talvez imaginasse o que lá viria. Ou talvez simplesmente, olhasse.

Sozinha vivia os dias que andavam com tão pouco andamento, que por vezes acreditava que nem tinham passado.

As marcas da sua cara tisnada, que não conseguia dizer a idade, e das suas mãos de quase couro, contavam histórias sem fim, provavelmente não muito felizes, mas já passadas. Histórias que só podiam ser adivinhadas, porque ninguém as conhecia.

Não se conhecia alguém que as tivesse ouvido, não se via alguém que parasse para dar ou receber uma palavra  ou para dois dedos de conversa fiada entre vizinhos. O seu olhar não o permitia.

Ninguém recordava companhia alguma naquela casa que fora sempre tão sozinha. Ninguém recordava a 1º vez que ali a viram, possivelmente há tanto tempo, que os que hoje passam naquela rua, nem teriam ainda nascido.

Mas viam-na ali à janela, como se o ar lhe faltasse lá dentro, e tivesse de o ir buscar lá fora, à janela, aquela janela com a tinta já descascada onde se viam ainda os laivos verdes escuros da tinta original, que dava para a vida, para o mundo, onde ela ficava a olhar todos os dias, ao mesmo tempo que, quem sabe, recordava as histórias que mais ninguém conhecia.

 

Texto no âmbito do Desafio caixa de lapis de cor

Negro

Vamos pintar com palavras? #3

Fevereiro 03, 2021

imsilva

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Pedaço negro

 

Passas veloz

Rajada de vento? 

ou simples pensamento

Pedaço negro que mal se vê

que mal se apanha

e não sei o que é

Alma penada

sofrimento em vão

Alma cansada, sem alcançar chão

Pedaço negro 

carregado de emoção

passas tão depressa

não consegues dar vazão

vazão às lágrimas, aos gritos

ao olhar de confusão

e aos pobres desatinos

que envolvem um coração 

 

 

 

Texto no âmbito do  Desafio caixa de lapis de cor

 

 

Castanho

Vamos pintar com palavras? #2

Janeiro 27, 2021

imsilva

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Castanho


Haverá pensamentos castanhos?
Os meus andam um bocado baralhados e sinto-os desbotados.
Pensei em castanho porque é a cor
de nada, não é preto, não é branco, não cativa, mas é a minha cor preferida.
Não tem a ver com os meus pensamentos,  mas sim com a cor que eu prefiro em objectos ou roupa.
Por vezes obrigo-me a escolher outras cores só para me contrariar.
Ou seja, não é simpático ter uma cor de que gosto em pensamentos desbotados.
Talvez não seja uma coisa má,  afinal se gosto da cor, talvez os pensamentos não sejam assim tão maus, talvez estejam só perdidos à procura de algum aconchego, de algum sentido.
Talvez eu os esbote com mais cores, e assim os entenda melhor. 

 

 

 

Texto no âmbito do Desafio caixa de lapis de cor

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