Esta é a 15º entrevista que faço para tentar encontrar um substituto do Pai Natal. Diz estar cansado das artrites e do frio, e que quer passar a reforma ao sol da Flórida. Mas, não está fácil, a uns faltam uns kilos, a outros a farta barba, e outros são alérgicos aos animais. Mas, não me chame eu, Rudolfo a rena, se não despachar isto com o que vem a seguir.
"Este tem a aparência perfeita, cabelos brancos como a neve, barba fantástica, peso, vejamos..." foram os meus primeiros pensamentos ao ver o candidato.
-Então, diga-me por favor, o seu nome?
-Felício da Conceição Natalino.
-Que conveniente. E a sua idade, se não se importa?
-Farei 69 anos no dia 25 de Dezembro.
- Perfeito, peço desculpa pela indiscrição, mas, o seu peso?
-A semana passada tinha 116 kg.
-Alguma doença impeditiva de andar de trenó todos estes kms numa só noite?
-Há aqui um ligeiro incómodo num joelho, mas como o trabalho será feito maioritariamente sentado e as entregas feitas com pozinhos de perlim-pim-pim, creio que não será impeditivo.
-E diga-me, alguma animosidade com animais e com crianças?
-Desde que não se lembrem de se aliviar nas minhas botas ou chorar no meu colo, não será problemático.
-Sim senhor, faria o obséquio de gargalhar para poder perceber o alcance da sua voz e o som produzido?
-Ho,ho, ho
-Muito bem, bastante satisfatório- e tomava notas de todas as respostas do Sr. Felício, para poder debate-las com o chefe- Só mais uma pergunta e creio que poderemos dar por terminada a entrevista. Tem mulher em casa que se possa ressentir com a sua ausência na noite de 24?
- Não tem qualquer problema, estive todo o ano a romper meias, para que nessa noite ela possa estar ocupada a cose-las.
- E agora, desculpe-me por favor, vou-me ausentar por uns momentos, alguém lhe trará um cafezinho.
-Se pudesse ser com cheirinho, agradecia.
Fui ao gabinete ao lado, transmitir ao patrão a entrevista, e depois de debatidas ideias e opiniões, voltei à sala onde o Sr. Felício esperava.
- Muito bem, chegámos à conclusão que o Sr. preenche os requisitos certos e aqui está a remuneração que acreditamos ser a indicada.
E passei-lhe uma folha de papel com um nº escrito. Este depois de o ver, levanta-se de rompante, até a cadeira caiu para trás, declara alto e bom som - Isto é um ultraje, por essa quantia prefiro continuar no fundo de desemprego! E sai esbaforido porta fora.
Com as mãos na cabeça, só pensei, "eu bem avisei o patrão"