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pessoas e coisas da vida

pessoas e coisas da vida

Dezembro 20, 2023

imsilva

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Fotografia da árvore da minha filha

O blog Aqui há coração, perguntava pelas nossas melhores recordações natalícias. Vieram várias à memória.

Éramos seis primos com idades parecidas, pré-adolescentes uns, e adolescentes outros. Era uma época em que não havia tecnologias irritantes, mas havia amizade, inocência, e uma grande alegria por passarmos a consoada juntos. A algazarra era constante, e a mais velha, a minha irmã, era a pior. Desde puxar a toalha de mesa que um estava a por, a tirar os bibelôs dos móveis e po-los no meio do chão, a por os dedos dentro do pudim e da mousse para os enjoados já não quererem comer. As matriarcas ralhavam e riam ao mesmo tempo.

Hoje somos mais no total, muito menos crianças, e as cabeças não têm a mesma simplicidade. Tudo na vida chama para o imediato, e por vezes sinto isso mais nos crescidos do que propriamente  nos mais pequenos. 

Finalmente, quando já falta alguém à mesa...não é a mesma coisa.

Quero voltar aos Natais da minha mãe.

Dezembro 09, 2022

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Num 8 de Dezembro de um qualquer ano do inicio dos 90s.

Madalena, depois de tocar caixa na procissão da N.Sra. da Conceição, chega a casa da avó já de noite, e a avó, como todos os anos, já tem as super-pantufas aquecidas à espera da sua menina que chega regelada do frio e muitas vezes da chuva que se fez sentir durante a procissão e consequente concerto no adro da igreja.

8 de Dezembro de 2022

Madalena vem do sítio da sua residência a 60 Km. para seguir a procissão da N. Sra. da Conceição. A avó já não está à sua espera, mas ela faz questão de vir de longe porque, diz ela, avó vai aquecer-lhe as pantufas.

 

Isto é real. Não houve procissão, a chuva não permitiu, mas Madalena veio.

Setembro 09, 2022

imsilva

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Mãe

Guardamos as tuas coisas, os teus brincos, os teus colares, os teus terços, as tuas malas...

Guardamos as tuas roupas que sofregamente aproximamos da cara na tentativa de sentir-te só mais uma vez.

Guardamos os teus rolos do cabelo que tantas recordações nos deixaram aos longo dos anos, religiosamente enrolados à volta das belas madeixas brancas que enfeitavam a tua cabeça.

Guardamos os teus óculos, que te deixavam tão parecida com a que chamávamos a tua irmã gémea, a rainha Isabel II. Imagina que morreu ontem, tinha de ser no mesmo ano que tu.

Mãe, guardei o teu frasco de perfume. Está ali, ao pé de mim, e de vez em quando destapo-o e sinto que entraste na minha casa. Está pertinho do teu menino Jesus, benzido pelo padre a teu pedido, assim que to ofereci.

Como vamos fazer com as gavetas vazias, com os armários sem o teu cheiro, com os cortinados que já não precisam de ser corridos?

Como vamos fazer com os teus pratos, as tuas travessas e terrinas, com os teus copos que davam para 10 mesas de 100 pessoas cada uma?

Mãe, desculpa, mandamos fora as tuas taças plásticas com tampa, onde punhas o arroz doce acabado de fazer, para te certificares que não havia perigo de derrame quando levássemos alguns para casa.

Como vamos fazer com o homem que cá ficou, perdido, mas inteiro, com a coragem de um guerreiro. O homem que aprendeu a viver sozinho sem ter com quem ralhar e discutir o episódio da novela das 18,30?

Mãe, como fazemos com o buraquinho que ficou nos nossos corações depois da tua partida?

Mãe, olhas por nós?

Julho 29, 2022

imsilva

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E sem ti, mãe, continuamos a caminhar

Sempre à espera de te encontrar

ao virar de uma esquina, ou sentada a costurar

mas, estupidamente tu não estás

e nós continuamos a caminhar

e a perguntar; onde estás?

Falta-nos um pedaço, estamos incompletos

mas seguimos com um sorriso

precisamos de sorrir e assim

dar forças a quem as não tem

São três meses de estupefacção

de dúvidas e incertezas

de dor e tristeza

de uma tristeza serena 

que absurdamente se apoderou 

das almas e dos corações 

de quem te amou, de quem te ama

de quem te recorda, hoje e sempre!

 

Dezembro 29, 2021

imsilva

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O Natal das nossas memórias

 

Fernanda aconchegou o casaco ao corpo, naquele Dezembro frio mas luminoso que ainda não prometia a neve que nunca mais vira, e continuou a andar, receosa do que iria encontrar uns passos mais à frente. Chegou à Rua de Baixo, o sítio onde não ia há mais de 40 anos. A aldeia de onde saíra com 10 anos de idade, para ir para o Brasil com os pais. O sítio onde ficara o seu coração na companhia dos avós que lhe tinham dado tanto amor e atenção, tantas memórias guardadas com tanto cuidado, sempre com medo que se desvanecessem.

Começou a descer a rua, notando o abandono que marcava aquelas casas que em tempos tinham estado preenchidas com vida, com risos, lágrimas e labutas. E quando finalmente lá chegou, o coração bateu mais forte, as lágrimas soltaram-se e deslizaram pelo seu rosto. Era uma ruína, umas pedras que tinham sido ocupadas por hera e plantas solitárias, e que lembravam imagens de outros tempos felizes e tão importantes na sua vida.Os avós tinham morrido cedo, cada um com a sua maleita, e a casa nunca mais tinha sido habitada. 

A saudade trouxe-lhe as memórias do último Natal que lá passara, antes daquela viajem que a levaria para tão longe. Via a mesa posta com a toalha que religiosamente saia todos os Natais, branca com azevinho bordado, sempre impecável de tão bem tratada que era. Os pratos e os copos do serviço das ocasiões especiais, e todos os acepipes e guloseimas que só a avó sabia fazer. Uma família alargada de tios e primos barulhentos, vindos de todos os cantos do pais, que enchiam a casa de alegria e confusão, e que sem isso não seria a mesma coisa.

Mas isso era o passado, o presente era isto, uma ruína, umas pedras que caladas, gritam nos silêncios de histórias sussurradas nos espaços das pedras que ficaram. Soluços ecoam nos vazios das almas, das presenças que já não estão.

Fernanda senta-se naquele muro que já foi parede, chora de saudade, e depois levanta-se, ergue a cabeça e faz o caminho de volta sentindo-se mais tranquila. Ainda bem que existem memórias...

 

 

Maio 19, 2021

imsilva

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Gavetas de memórias sem cor

Gavetas de recordações esfumadas

Gavetas de sensações quentes

Gavetas de boas gargalhadas e de tristes lágrimas

Guardam as minhas camisolas e as minhas ilusões

Guardam os meus anéis e as minhas histórias

Guardam os meus sonhos, os que desapareceram nas esquinas do tempo,

e os que guardei com o maior dos recatos, para ninguém cobiçar

Guardam as imagens que a retina guardou e o coração rejeitou

Guardam alegrias e tristezas do que se perdeu no caminho

Guardam esperanças, desejos, anseios e sentimentos de amor, ainda por usar

E guardam uns pozinhos de felicidade, pelo sim pelo não

As minhas gavetas estão cheias do que não quero largar

Cor de rosa

Vamos pintar com palavras ? #8

Março 10, 2021

imsilva

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Memórias em rosa

 

Cor de rosa eram os laçarotes que a mãe lhe costumava pôr no cabelo.

Cor de rosa os sonhos que todas as noites lhe faziam companhia, quando dormia na sua pequena cama com o seu amigo coelho Ní.

Cor de rosa fora a festa do seu sexto aniversário.

Cor de rosa era o chapéu de chuva que a avó lhe dera naquele ano em que vivera lá em casa, antes de a levarem para o "lar", onde diziam que estaria melhor.

Cor de rosa o xaile que no Natal lhe fora levar ao "lar", justamente antes de a avó morrer no sítio onde supostamente ela estaria melhor.

Cor de rosa fora o casaquinho que fizera durante a sua 1º gravidez para a sua 1º filha.

Cor de rosa seria o casamento que ela tinha imaginado...

Cor de rosa era a cor de algumas das suas mais importantes memórias, que vinham lá de longe no tempo.

Havia memórias de outras cores muito mais escuras na sua vida, mas essas, ela não queria recordar.

 

Texto no âmbito do Desafio caixa de lapis de cor

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