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pessoas e coisas da vida

pessoas e coisas da vida

Quanto tempo nos resta?

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Maio 16, 2025

imsilva

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Pode ser anos, pode ser meses, pode ser 1 dia, ou num segundo tudo acabar.

Abnegadamente tememos, pensamos, tentamos fazer o apanhado do que já foi e do que gostaríamos que ainda fosse sem qualquer garantia de cumprimento.

Sentimo-nos maiores do que os que não conseguiram continuar, dos que já não conseguiram realizar os seus sonhos, porque não conseguimos imaginar, nem aceitar que há uma roleta, pronta a indicar um qualquer dos que por aqui andam a sorrir (ou não), e o ponteiro não tem discriminações.

E depois temos os que já vividos sonhos, alegrias e desgostos, esperam com a angústia no olhar o seu momento. Tentam racionalizá-lo sem grandes resultados. Tentam convencer-se que já fizeram tudo quanto podiam fazer, e que chegou a sua hora, mas não conseguem disfarçar que é mentira. Querem ver os filhos a vingar na vida, os netos e os bisnetos a crescer, querem estar lá para eles, para lhes dar um conselho, para dar aquela ajuda moral que só os mais velhos sabem dar.

No entretanto, o sol continua a aparecer todos os dias, porque mesmo encoberto sabemos que está lá. Vamos dando os passos que nos levam a vitórias e derrotas, a lágrimas e a risos. Vamos dando abraços aos que nos rodeiam sem saber se será o último, e ainda bem que assim é. 

Quem quer saber até quando é que cá estamos? Não vale a pena, olhem para o céu, não é lindo?

 

 

 

 

Os que não estão

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Abril 18, 2025

imsilva

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As palavras puxam palavras, os pensamentos vêm uns atrás dos outros sem pedir licença, e assim no dia de hoje, vieram lembranças e recordações das pessoas que já não estão.

Familiares, amigos, um exército de pessoas que tenho a certeza zelam por mim. A morte deixou de ser algo confuso. Lembro-me de em criança o cemitério ser assustador, tentava não respirar aquele ar, não sei muito bem porquê. Agora é o sítio onde estão pessoas que eu amo, que fizeram parte da minha vida, de uma maneira ou de outra, e são tantos.

Sinto-me dividida entre a vida que já foi e a que hoje é. Falava, pedia conselhos, trocava ideias com quem já não o posso fazer, e agora continuo a fazê-lo com quem está, mas sempre com as palavras dos outros na memória.

Um dia também vou faltar, e espero que alguém sinta como eu, que sintam que as minhas palavras fizeram sentido e que a minha recordação conforta.

Boa Páscoa.

Abril 29, 2024

imsilva

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Partiste há dois anos

Mas, partiste para onde?

Eu sei, estás connosco, no nosso âmago, 

Estás connosco na maneira como dizemos o que tu dizias, ou quando replicamos os teus gestos, movimentos e hábitos.

Mas, falta-nos o teu cheiro, o teu toque, o teu olhar, o teu sorriso quando vias os teus, as tuas opiniões positivas ou negativas, às invenções que te apresentávamos e às quais reviravas os olhos e franzias o nariz.

Como foi possível que tenhas partido há dois anos, e a vida continue todos os dias? que o sol continue a sair e a iluminar-nos, como se nada tivesse acontecido? Que as flores continuem com as suas cores garridas, se tu já não estás para cuidar delas?

Mãe, um dia vamos conversar sobre o assunto, e tentar perceber como certas coisas são possíveis.

Um dia...

 

 

Junho 22, 2022

imsilva

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Quando a nossa vida leva abanões e dá cambalhotas, algo muda, se modifica e altera sem que demos conta. Aparentemente somos os mesmos, a vida segue o seu curso, não mudamos de família nem de trabalho, mas o espírito muda, e só damos por isso quando notamos que alguns hábitos foram alterados e começamos a sentir falta deles.

Aquele pedacinho da manhã que passava a ler os blogues dos meus vizinhos e que inventava algo para publicar, desapareceu sem avisar para onde ia. Perguntei ao meu espírito se sabia de alguma coisa e ele respondeu-me, "deixa-me em paz"!

Pois é, o espírito tem vontade própria e consegue ser muito mal educado.

A verdade é que acontecimentos, causas e consequências são inevitáveis no nosso percurso de vida, resta-nos aceitá-los, guardá-los com mais ou menos carinho (dependendo dos danos) na caixinha das memórias, alguns num cantinho especial do coração, e outros ainda nunca sairão dos nossos pensamentos façamos nós o que fizermos.  

Mas a vida espreita e diz-nos "lembras-te do que te faz feliz, do que gostas de fazer?" e aí damos um raspanete ao espírito mal-criado, pomo-lo de castigo e seguimos com as nossas coisas felizes que tão bem coabitam com as lembranças, também felizes, que entretanto passaram a povoar a nossa alma.

Histórias da vida real - II - Henrique

Porque todos somos feitos de histórias

Março 25, 2022

imsilva

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Henrique viveu bem.

Henrique viveu bons e maus bocados na vida. Nos últimos 20 anos a vida de Henrique não foi fácil. Problemas vários, desde familiares a problemas de saúde, e a problemas laborais e financeiros, Henrique já reformado há dez anos, teve de continuar a trabalhar.

Henrique tentou. 

Henrique é boa pessoa. Gostamos dele. Mas a vida achou que Henrique não merecia paz, não merecia uma velhice descansada e deu-lhe tudo menos isso.

Henrique teve mais um AVC, mais um vírus e mais uma bactéria.

Henrique não quer mais viver.

Henrique não quer estar ligado a uma máquina, sabendo que não vai mais sair dali.

Henrique está consciente e pediu para desligarem essa máquina.  

Essa máquina desligou-se sozinha...

Novembro 26, 2021

imsilva

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"Como explicar que o homem, um animal tão predominantemente construtivo, seja tão apaixonadamente propenso à destruição? Talvez porque seja uma criatura volúvel, de reputação duvidosa. Ou talvez porque seu único propósito na vida seja perseguir um objetivo, algo que, afinal, ao ser atingido, não mais é vida, mas o princípio da morte".

- Fiódor Dostoiévski

 

“Autoretrato com Morte tocando Violino” - Arnold Böcklin, 1872.

Outubro 13, 2021

imsilva

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El sueño, Frida Khalo (1940)

De olhos fechados,  sonhei contigo. Miravas-me de um modo que eu não conseguia decifrar.  Pensei se seria amor ou se seria rancor, mas era com certeza um olhar intenso, um olhar perturbante.

Quis acordar, mas as pálpebras pesavam, não as comandava, não me obedeciam.

Senti-me a pairar algures numa outra dimensão, e com vontade de lá ficar. 

Foi quando o meu corpo estremeceu fortemente,  como se um choque eléctrico o tivesse percorrido. Senti o ar a invadir os meus pulmões e acabei por abrir os olhos, um sentimento de medo se apoderou de mim.

Ao abrir os olhos compreendi.

Afinal não eras a morte, mas sim a vida a chamar-me de volta.

 

Texto no âmbito do desafio da Fátima Bento

 

Junho 12, 2020

imsilva

 

Introdução; Uma noite do verão passado, cheguei a casa muito cansada e já tarde, mas com a necessidade de escrever qualquer coisa. Havia uma palavra que me surgia com muita força "areia", e imaginava a areia da praia, era uma espécie de conforto que me chegava através da mente. Sentei-me e comecei a escrever. Nos dias seguintes continuei, e foi isto que saiu daquele impulso. Lembrei-me de vos ofertar com este conto, relato, história, que estava guardado e quase esquecido.

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VIDA

 

Hora-16,30.

Frio, muito frio.

A areia estava molhada, na consistência certa para fazer bonitos castelos de areia. Estivessem ali as crianças munidas de baldes e pás, e pela certa a empreitada seria rapidamente concretizada, e surgiriam torres, muralhas, ameias e fossos colossais, onde poderia esconder mágoas, dores e prantos que lhe apertavam a garganta, o coração e a alma.

O céu estava triste, solidário com o seu próprio espírito, e a cor do mar convidava a pensamentos lúgubres e obscenos de tão maus que eram.

O telemóvel tocou

- Estou?

- Podes vir.

- OK.

E um soluço se soltou da sua garganta, que rapidamente negou e prendeu.

Emília levantou-se, sacudiu as calças molhadas da areia e dirigiu-se às escadas que a levariam para fora da praia, para um sítio onde não quereria ir de maneira alguma.

Ana, a sua grande amiga e cunhada estava à sua espera, sentada num banco. Emília chegou até ela, deu-lhe o braço, recebeu um beijo e seguiram para o seu destino. Mas não iam sós, as recordações de uma vida, iam com ela naquele regresso à casa onde Eduardo repousava.

Tinha casado aos 23 anos apaixonada. Conhecera Pedro num concerto onde fora practicamente obrigada a ir pelos amigos, que não aceitaram um não da sua parte. Pedro era amigo de Marta, uma das raparigas do grupo, e acabou por passar a noite com eles. Depois disso, passou a fazer parte de todos os encontros e programas que faziam, indo com eles aonde eles fossem.

Simpático e afável, tomou-se de amores por Emília que sem se dar conta, começou a retribuir a atenção a daí a namorarem e a casarem foi um pulinho.

Pedro estudara economia e trabalhava numa grande multi-nacional, e Emília, que sempre tinha sonhado com jornalismo, acabou por contingências da vida numa editora pequenina que, com o tempo crescera, acreditava ela que com uma boa ajuda da sua parte, e acabou por se sentir muito satisfeita e orgulhosa do seu trabalho.

Quando ficou grávida por 1º vez, apesar de não estarem à espera, aceitaram de bom grado e com muita emoção, e apaixonaram-se perdidamente por aquela coisinha doce a quem chamaram Inês. A 2º vez foi mesmo prevista e desejada, queriam dar continuidade à felicidade que tinham encontrado com a Inês, e assim nasceu a Mariana.

Fora uma bonita história, houve muito amor, muito carinho compartilhado durante uns bons anos, mas, não sabe muito bem como ou quando, durante o trajecto, apareceu uma bifurcação e aparentemente cada um seguiu um caminho diferente. Talvez tivesse sido quando depois de uma festa na empresa, Pedro acompanhou uma colega a casa, e tendo acabado por entrar para beber um café, demorou-se mais do que previa e aconteceu também mais do que o previsto. Ou quando ela sentiu necessidade de sair uns dias sozinha, por sentir que precisava de respirar e estar consigo mesma, para sentir que também existia, talvez…

Emília, na altura pensou que era difícil ter um amor para a vida, o ser humano é muitíssimo complicado, 2 seres humanos mais complicado é.

Mas, passados 3 anos conheceu Eduardo, e foi impossível não querer estar com ele todos os dias, partilhar o café da manhã com aquele sorriso, e com aqueles olhos pretos que a faziam sempre sentir, que realmente olhavam para ela.

Eduardo era irmão do marido de Ana, uma amiga recente mas muito importante nesses momentos da sua vida, e cuja amizade felizmente, tinha continuado agora com laços familiares. Este encontro com Eduardo, escultor já com algum nome no meio, deu-se quando Emília estava mais convencida que nunca, que não queria compromissos com ninguém, sentia-se bem sozinha, com a companhia das filhas que cresciam bastante equilibradas, uma vez que tinham o total apoio do pai.

Mas essa convicção foi por água abaixo depois de um fim de semana em casa de Ana no Alentejo, em que percebeu que afinal pode haver mais que um amor na vida.

E assim já tinham decorridos 21 anos. 21 anos de vida amada, de vida calma, de vida compartilhada nos bons e maus momentos, sem nunca ter ficado beliscada por isso.

Até àquele dia.

 Eduardo trabalhava no quarto que lhe servia de atelier, e Emília mexia no que seria o almoço de ambos. Tinha recebido um telefonema da filha Inês, a relembrar o jantar de sábado para celebrar o 8º aniversário de Margarida, a neta mais nova, e pensava naquilo que iria comprar para a neta, quando houve um barulho mais forte que o normal, vindo do atelier. Bastante assustada dirigiu-se para lá, e ao abrir a porta, encontrou Eduardo estendido no chão a tremer convulsivamente. Depois de ter chegado o 112, tudo mudou na sua vida, nada seria como até aí.

Ana diz-lhe – entramos? Emília desperta da sua viagem ao passado, algum dele tão recente como assustador, e com um sorriso triste acena com a cabeça.

Lá dentro está o corpo de Eduardo, amavelmente os senhores da funerária e o seu irmão, estiveram a tratar dos pormenores do que se iria seguir. O que é que se iria seguir?

Neste momento Emília não quer olhar para o futuro, neste momento quer olhar para o presente e quer muito guardar o passado.

Abril 27, 2020

imsilva

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Muito andamos na vida, e muito esperamos ainda andar. Mas em que termos e condições?

" Não são tempos normais" frase corriqueira de todos os dias, mas a cada dia que passa, fica mais e mais notório o significado, e mais doloroso também.

Medo da doença? Mais medo do depois, dos reflexos que ficarão nas nossas vidas, medo do desconhecido que "este algo" nos quer impingir, medo do durante, do espaço-tempo até podermos dizer "já passou".

Não era assim que a nossa vida estava planeada, não foi nada disto que nos ensinaram em pequenos, nem na escola nem em casa. Não há referências para sabermos que armas devemos usar.

Tenho a alma vestida de escuro. As manhãs são as mais complicadas, quando depois de acordar, levo com uma bofetada na cara quando me lembro. Não ando triste, mas tudo me enche os olhos de água.

Estou muito bem em casa, tanto que até receio a volta ao trabalho e a tudo o que isso implica, apesar de saber que se não voltamos depressa a coisa pode ficar realmente feia.

Saudades? Muitas! Dos pais, dos filhos, dos netos, (ai, ui, dói), e de uma dúzia de pessoas mais, não mais do que isso. Talvez o resultado de lidar com muita gente durante toda a minha vida, boa gente e apesar de ser no plano profissional, alguns passaram ao nível da amizade, mas também fez com que agora saiba apreciar o sossego.

Uma última coisa, a morte, a estúpida morte. A minha mais do que sincera compaixão por todos os que estão a passar pela despedida dos seus entes queridos. Morreram alguns familiares meus nestes últimos tempos, nenhum com Covid19. Tanto a família do meu marido como a minha, somos pessoas de nos reunirmos nos velórios e funerais. Somos unidos e estamos lá nessas alturas, e agora nada. O último foi há dois dias, e pelas palavras do meu marido que passou no cemitério nessa altura, foi terrorífico. Os senhores da funerária estavam vestidos com fatos de ficção cintífica com direito a máscaras daquelas com tubo para receber ar. Como é que se poderão sentir os familiares (sózinhos) que se despedem assim do seu marido e do seu pai, com pessoas que parecem saídas de um filme. Não tenho mais que comentar.

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