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pessoas e coisas da vida

pessoas e coisas da vida

Maio 15, 2024

imsilva

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ALICE VIEIRA

O QUE DÓI ÀS AVES 

Às vezes uma palavra bastava
Para que eu soubesse que virias sempre
ao meu encontro

Mas depois chegaram imprevistas tempestades
Que desenharam estranhas perdições
No mapa dos teus dedos

E as palavras que ninguém quis
Silenciaram a festa do meu corpo

E cobriram o teu daquele silêncio imóvel
Dos lençóis que se estendem sobre as casas
Abandonadas no fim do verão



 

Março 21, 2024

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PARA ESCREVER O POEMA

O poeta quer escrever sobre um pássaro:
e o pássaro foge-lhe do verso.
O poeta quer escrever sobre a maçã:
e a maçã cai-lhe do ramo onde a pousou.
O poeta quer escrever sobre uma flor:
e a flor murcha no jarro da estrofe.
Então, o poeta faz uma gaiola de palavras
para o pássaro não fugir.
Então, o poeta chama pela serpente
para que ela convença Eva a morder a maçã.
Então, o poeta põe água na estrofe
para que a flor não murche.
Mas um pássaro não canta
quando o fecham na gaiola.
A serpente não sai da terra
porque Eva tem medo de serpentes.
E a água que devia manter viva a flor
escorre por entre os versos.
E quando o poeta pousou a caneta,
o pássaro começou a voar,
Eva correu por entre as macieiras
e todas as flores nasceram da terra.
O poeta voltou a pegar na caneta,
escreveu o que tinha visto,
e o poema ficou feito.

Nuno Júdice

Fevereiro 28, 2024

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POEMA - A procura

Cora Coralina

"Andei pelos caminhos da Vida.
Caminhei pelas ruas do Destino –
Procurando meu signo.
Bati na porta da Fortuna,
Mandou dizer que não estava.
Bati na porta da Fama,
Falou que não podia atender.
Procurei a casa da Felicidade,
A vizinha da frente me informou
Que ela tinha se mudado
Sem deixar novo endereço.
Procurei a morada da Fortaleza.
Ela me fez entrar: deu-me veste nova,
Perfumou-me os cabelos,
Fez-me beber de seu vinho.
Acertei o meu caminho."

 

Fevereiro 02, 2024

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Este é o último texto do desafio dos cinquentas (2019) que republico. A viagem a que me referia no fim, aconteceu em Abril de 2022. Continuo a adorar as rugas de minha mãe.

                    

Rugas de minha mãe, que contais?

Pecados, sofrimentos e dores?

Prazeres, alegrias e amores?

Ruas tortas

Avenidas direitas

Becos de sol

Praças de chuva

Cruzamentos de dúvidas

Mas, muitos caminhos percorridos

Muitas pedras calcadas

E o descanso ali, na linha do horizonte,

a prometer uma outra viagem.

                  

Janeiro 16, 2024

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ROSA LOBATO DE FARIA, in CEM PORTUGUESES

AFIRMAS QUE BRIGÁMOS. QUE FOI GRAVE

Afirmas que brigámos. Que foi grave.
Que o que dissemos já não tem perdão.
Que vais deixar aí a tua chave
e vais à cave içar o teu malão.

Mas como destrinçar os nossos bens?
Que livro? Que lembranças? Que papel?
Os meus olhos, bem vês, és tu que os tens.
Não te devolvo - é minha! - a tua pele.

Achei ali um sonho muito velho,
não sei se o queres levar, já está no fio.
E o teu casaco roto, aquele vermelho
que eu costumo vestir quando está frio?

E a planta que eu comprei e tu regavas?
E o sol que dá no quarto de manhã?
É meu o teu cachorro que eu tratava?
É teu o meu canteiro de hortelã?

A qual de nós pertence este destino?
Este beijo era meu? Ou já não era?
E o que faço das praias que não vimos?
Das marés que estão lá à nossa espera?

Dividimos ao meio as madrugadas?
E a falésia das tardes de Novembro?
E as sonatas que ouvimos de mãos dadas?
De quem é esta briga? Não me lembro.

*
Arte © Tomasz Alen Kopera

 

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