Março 13, 2024
imsilva
"Em África, os silêncios são parte da
conversa.
O silêncio é uma outra maneira da
palavra viver e há coisas que não podem
ser ditas de outra maneira."
-Mia Couto-
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Março 13, 2024
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"Em África, os silêncios são parte da
conversa.
O silêncio é uma outra maneira da
palavra viver e há coisas que não podem
ser ditas de outra maneira."
-Mia Couto-
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Fevereiro 28, 2024
imsilva
POEMA - A procura
Cora Coralina
"Andei pelos caminhos da Vida.
Caminhei pelas ruas do Destino –
Procurando meu signo.
Bati na porta da Fortuna,
Mandou dizer que não estava.
Bati na porta da Fama,
Falou que não podia atender.
Procurei a casa da Felicidade,
A vizinha da frente me informou
Que ela tinha se mudado
Sem deixar novo endereço.
Procurei a morada da Fortaleza.
Ela me fez entrar: deu-me veste nova,
Perfumou-me os cabelos,
Fez-me beber de seu vinho.
Acertei o meu caminho."
Fevereiro 16, 2024
imsilva
Somos de um mundo chamado saudade
Saudade do que foi, do que vivemos
Saudade do que não fomos, do que não vivemos
Saudade do que virá
Saudade de desejos
Saudade do que nunca será
Somos de um mundo chamado insatisfação
Fevereiro 02, 2024
imsilva
Este é o último texto do desafio dos cinquentas (2019) que republico. A viagem a que me referia no fim, aconteceu em Abril de 2022. Continuo a adorar as rugas de minha mãe.
Rugas de minha mãe, que contais?
Pecados, sofrimentos e dores?
Prazeres, alegrias e amores?
Ruas tortas
Avenidas direitas
Becos de sol
Praças de chuva
Cruzamentos de dúvidas
Mas, muitos caminhos percorridos
Muitas pedras calcadas
E o descanso ali, na linha do horizonte,
a prometer uma outra viagem.
Janeiro 16, 2024
imsilva
ROSA LOBATO DE FARIA, in CEM PORTUGUESES
AFIRMAS QUE BRIGÁMOS. QUE FOI GRAVE
Afirmas que brigámos. Que foi grave.
Que o que dissemos já não tem perdão.
Que vais deixar aí a tua chave
e vais à cave içar o teu malão.
Mas como destrinçar os nossos bens?
Que livro? Que lembranças? Que papel?
Os meus olhos, bem vês, és tu que os tens.
Não te devolvo - é minha! - a tua pele.
Achei ali um sonho muito velho,
não sei se o queres levar, já está no fio.
E o teu casaco roto, aquele vermelho
que eu costumo vestir quando está frio?
E a planta que eu comprei e tu regavas?
E o sol que dá no quarto de manhã?
É meu o teu cachorro que eu tratava?
É teu o meu canteiro de hortelã?
A qual de nós pertence este destino?
Este beijo era meu? Ou já não era?
E o que faço das praias que não vimos?
Das marés que estão lá à nossa espera?
Dividimos ao meio as madrugadas?
E a falésia das tardes de Novembro?
E as sonatas que ouvimos de mãos dadas?
De quem é esta briga? Não me lembro.
*
Arte © Tomasz Alen Kopera
Novembro 03, 2023
imsilva
É um som abafado
É um grito inacabado
É um princípio atrasado
É um abraço desejado
É um coração com fendas
É uma vida sem redeas
É uma alma quebrada
É uma morte anunciada
Novembro 01, 2023
imsilva
" Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra.
Não; não sei ter pressa.
Se estendo o braço, chego exactamente aonde o meu braço chega -
Nem um centímetro mais longe.
Toco só onde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E vivemos vadios da nossa realidade.
E estamos sempre fora dela porque estamos aqui."
Alberto Caeiro. Não tenho pressa. In "Poemas Inconjuntos"
Outubro 25, 2023
imsilva
ODE À PAZ
Pela
verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
pela branda melodia do rumor dos regatos,
Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego, dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz,
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
deixa
passar a Vida!
©️ Natália Correia
Outubro 18, 2023
imsilva
Eu tenho dois netos de chocolate e, quando estou com eles, mesmo sem olhar para a marca ou para o país de origem do chocolate de que são feitos, sinto-me o guloso mais feliz deste mundo. E não precisam de me perguntar porquê. Basta olharem para os bombons dos seus olhos infinitamente doces e para as barras de chocolate com que me abraçam enquanto me segredam palavras raras que querem sempre dizer muito mais do que eu consigo perceber. Agora só me falta ouvi-los pronunciar a palavra "chocolate"como se a escrevessem no céu estrelado do amor que tenho por eles"
José Jorge Letria. Dois netos de chocolate. In. Histórias de chocolate
Ilustração de Raquel Diaz Reguera
Outubro 11, 2023
imsilva
"Devagarinho, muito devagarinho, a folha soltou-se do ramo da árvore.
Devagarinho, muito devagarinho, a folha voou sen saber muito bem o caminho.
Devagarinho, muito devagarinho, a folha poisou no chão sem fazer barulho.
Devagarinho, muito devagarinho, aquela folha acastanhada chamou pelo vento.
Rápido, muito rápido, o vento apareceu e deu-lhe uma sopradela.
E a folha voltou a voar mais um bocadinho e depois caiu em cima da bota de um velho que estava sentado num banco de jardim.
O velho pegou na folha e pensou:
Acabou o verão! Ai, o tempo passa tão depressa!
Antonio Mota.
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