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pessoas e coisas da vida

pessoas e coisas da vida

Novembro 15, 2023

imsilva

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A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse:
“Não há mais o que ver”, saiba que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.

José Saramago, In: Viagem a Portugal. 

Novembro 17, 2021

imsilva

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Sucata

o que levam das nossas vidas
as coisas velhas que deitamos fora porque
as casas são pequenas e os objectos
envelhecem agora mais depressa
do que nós

nas velhas casas
os lençóis de linho e as arcas de cânfora
e os serviços de chá onde se via
uma chinesa no fundo das chávenas
que um tio avô
tinha trazido de Cantão
sobreviviam sempre a todos os mortos
e passavam de cama para cama
e de sala para sala
e de mesa para mesa
e eram sempre os mesmos
e nós tão outros

mas agora tudo é feito
para morrer depressa e
sem deixar mágoa nem vestígio

e que fazem dentro das nossas vidas
gravadores de fita máquinas de escrever
cassettes onde aprisionámos
histórias momentos e rostos
que julgávamos eternos
e que pensávamos rever
a vida inteira

--o senhor da sucata estava feliz
agradeceu muitas vezes
enquanto amontoava tudo
deixando a minha casa
subitamente maior

(ou muito mais pequena
conforme o ponto de vista)"

Alice Vieira, Olha-me Como Quem Chove.

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