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pessoas e coisas da vida

pessoas e coisas da vida

Fevereiro 08, 2023

imsilva

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E é por aqui que andam os meus pensamentos.

Cada vez mais, preciso menos de convívios e pessoas a quem devo uma conversa de circunstância.

Cada vez mais, prezo o meu cantinho, o meu sossego, o meu silêncio. Isto apesar de por vezes ter a casa cheia, o que não quer dizer que não me saiba bem, desde que o sossego regresse.

Dizem que a idade traz estas manias, pois se assim for, eu já lá estou, na "idade"!

Passado e presente

Mini-conto

Janeiro 04, 2023

imsilva

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Enroscou-se no sofá, o mais perto da lareira possível. As festas estavam a acabar e ela sentia-se contente com o facto.

Teimosamente, enfeitara a casa quase como antigamente. Queria tentar não perder o espírito, mas, estava difícil. Gostava do verde, do vermelho e dos brancos flocos de neve que representavam o Natal, mas perguntava-se a si própria se teria a coragem de o fazer novamente no próximo ano. 

Quando é que tinha começado a sentir que já pouco sentido fazia? Quando a grande família começou a ficar mais pequena? Quando o seu próprio núcleo familiar se afastou por força das circunstâncias?

Lembrava-se de Natais passados com um baque no coração. Os filhos em casa entusiasmados com os mais pequenos pormenores, o marido que a reboque deles, até vestia camisolas com renas, e ela própria, vivia aqueles dias com um sorriso permanente no rosto.

Mas, o tempo passa. Os filhos procuram o seu caminho, o seu mundo, que por vezes fica a muitos quilómetros de distância, e a idade destrói células e faculdades por vezes cedo demais, aos que ficam ao nosso lado.

Assim era a sua vida agora. Os filhos longe e o seu marido, o companheiro de tantas alegrias e arrelias, já não lhe fazia a companhia a que se habituara. Era alguém que ela não reconhecia, mas que tinha as feições dele, da pessoa que tanto lhe dera, que tanto a incentivara e ajudara a crescer como ser humano ao longo dos anos.

O relógio fazia o tic-tac próprio, sem grandes alaridos, só o suficiente para não esquecermos que o tempo corre sem contemplações.

Olhou à sua volta, amanhã tiraria as caixas dos enfeites da arrecadação e cuidadosamente os arrumaria, como sempre tinha feito, mas hoje, surpreendentemente, gostou do que viu. Sentiu-se confortável e a relaxar. Tentou agarrar esse momento, já eram tão poucos...

Pegou no livro que repousava na pequena mesa de apoio, abriu-o e começou a ler na página onde o tinha deixado há duas noites. Sentiu alguma dificuldade em se concentrar ao princípio, mas ao fim de alguns minutos em que sentia a mente a fugir para outros sítios, conseguiu embrenhar-se na sua leitura e aí pode usufruir de um serão noutro mundo, noutras paragens, noutras vidas, onde ela não estava.

 

Novembro 21, 2022

imsilva

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Ora, a solidão, ainda vai ter de aprender muito para saber o que isso é, Sempre vivi só, Também eu, mas a solidão não é viver só, a solidão é não sermos capazes de fazer companhia a alguém ou a alguma coisa que está dentro de nós, a solidão não é uma árvore no meio duma planície onde só ela esteja, é a distância entre a seiva profunda e a casca, entre a folha e a raiz, Você está a tresvariar, tudo quanto menciona está ligado entre si, aí não há nenhuma solidão, Deixemos a árvore, olhe para dentro de si e veja a solidão, Como disse o outro, solitário andar por entre a gente, Pior do que isso, solitário estar onde nem nós próprios estamos.

José Saramago, "O Ano da Morte de Ricardo Reis"
Pintura de Sergio Clemente

Biblioteca Municipal de Beja - José Saramago

Verde escuro

Vamos pintar com palavras? #4

Fevereiro 10, 2021

imsilva

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Numa janela verde escuro

 

Debruçada na janela já descascada onde se viam ainda os laivos verdes escuros da cor original, olhava o mundo, a vida, o que já tinha passado, o que acontecia e talvez imaginasse o que lá viria. Ou talvez simplesmente, olhasse.

Sozinha vivia os dias que andavam com tão pouco andamento, que por vezes acreditava que nem tinham passado.

As marcas da sua cara tisnada, que não conseguia dizer a idade, e das suas mãos de quase couro, contavam histórias sem fim, provavelmente não muito felizes, mas já passadas. Histórias que só podiam ser adivinhadas, porque ninguém as conhecia.

Não se conhecia alguém que as tivesse ouvido, não se via alguém que parasse para dar ou receber uma palavra  ou para dois dedos de conversa fiada entre vizinhos. O seu olhar não o permitia.

Ninguém recordava companhia alguma naquela casa que fora sempre tão sozinha. Ninguém recordava a 1º vez que ali a viram, possivelmente há tanto tempo, que os que hoje passam naquela rua, nem teriam ainda nascido.

Mas viam-na ali à janela, como se o ar lhe faltasse lá dentro, e tivesse de o ir buscar lá fora, à janela, aquela janela com a tinta já descascada onde se viam ainda os laivos verdes escuros da tinta original, que dava para a vida, para o mundo, onde ela ficava a olhar todos os dias, ao mesmo tempo que, quem sabe, recordava as histórias que mais ninguém conhecia.

 

Texto no âmbito do Desafio caixa de lapis de cor

Livro dos contos de natal do Blog

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