Março 18, 2022
imsilva
Vladislav lembrava-se daquele teatro numa ocasião em que, era ele de palmo e meio, fora com o avô ver uma peça "Pedro e o lobo" de Prokofiev. Talvez fosse daí que tivesse nascido a sua paixão pela música.
Hoje era um jovem pianista que começava a ser conhecido na cidade de Kiev, e falado em toda a Ucrânia. Mas, não tinha tido oportunidade de tocar lá, e agora já não o poderia fazer.
Agora só tinha as memórias das belas melodias lá ouvidas ao lado de um avô que também já não estava.
Os seus olhos percorreram as paredes que restavam e sentiu um aperto no peito. Destroem-se casas de cultura como se de um baralho de cartas se tratasse, e não são essas só, são as outras também, as casas que fazem parte da vida do povo, da vida das aldeias, cidades, as casas onde se ensina, as casas onde se tratam os doentes, as casas onde se procura o conforto da fé, as casas de uma sociedade completa.
Haverá alguma desculpa, alguma razão, algum motivo que justifique a destruição dos meios de sobrevivência do ser humano, e do próprio do ser humano que não fez nada para isso merecer?
Vladislav afastou-se acabrunhado, com os olhos postos no chão, envergonhado, não queria ver mais atrocidades cometidas por aqueles que ele pensava serem seus semelhantes.