Fevereiro 28, 2022
imsilva
Como é que se deixa, larga, abandona uma casa em caso de guerra?
O que é que se leva? O que é que se deixa? Fechamos a porta à chave e guarda-mo-la no bolso à espera de voltarmos e a encontrarmos como a deixamos?
Passaram-me estas interrogações pela cabeça e pareceram-me muito ridículas. Mas há milhares de pessoas a fazê-lo presentemente, assim como foi feito durante muitos momentos da história da humanidade.
Como é que se faz isso? Põe-se meia dúzia de roupas numa mala, alguns documentos, uns trocos existentes numa gaveta, o cordão de ouro que pertenceu à nossa mãe ou os brincos que o marido nos ofereceu naquele aniversário e o resto é história?
Largamos as nossas coisas, as nossas mobílias que guardam os nossos pratos, os nossos copos, a cama onde à noite podíamos descansar depois de um dia de labuta, longe de imaginar que um dia não nos deixariam lá dormir?
Será que deixaríamos as gavetas que guardam as nossa vidas e as nossas recordações abertas ou fechadas?. A nossa "sorte" é que as nossas memórias e vivências podem ir connosco, mas deixamos as estantes repletas com os livros que nos acompanharam, fiéis companheiros de momentos que acreditamos que eram felizes e que não podemos levar porque são muito pesados. Mesmo assim, creio que alguém terá a coragem de levar um ou dois à socapa, como conforto, como outros levarão um terço ou algo que os possa ajudar a recordar que são humanos, que não fizeram mal a ninguém e que não mereciam esta odisseia.
Regressarão? Como será o regresso, estará lá a sua casa à espera que a chave dê a volta na fechadura, abra a porta e tudo esteja bem? O que será isso de regressar e tudo estar bem? E se regressarem e nada estiver bem...?
Não referi as crianças neste texto. Nem quero...